Título: 'País suportaria corte de gás boliviano'
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2008, Economia, p. B10

Lobão diz que haveria corte para térmicas e empresas e carros mudariam de combustível

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou ontem que o plano de contingência elaborado pelo governo suportaria corte no fornecimento de gás de até 30 milhões de metros cúbicos por dia. O volume é equivalente a todas as importações da Bolívia. Segundo ele, térmicas, indústrias e veículos a gás natural veicular (GNV) seriam os afetados pelo racionamento.

O abastecimento de gás boliviano foi normalizado na tarde de quinta-feira, depois que o desligamento de uma válvula do Gasoduto Yacuíba-Rio Grande (Gasyrg) suspendeu a operação do duto, que tem capacidade para transportar 17 milhões de metros cúbicos por dia.

Especialistas e executivos acreditam que é grande o risco de novos ataques, uma vez que é difícil garantir a segurança em todos os 430 quilômetros de extensão do duto. Lobão admitiu o risco de cortes, mas disse que é problema pontual, reflexo ¿das questões sociais, políticas e internas daquele país¿.

¿O Brasil não tem queixa da Bolívia porque o tratado tem sido cumprido. Essa crise é um problema deles, no qual não vamos nos meter¿, disse, após visitar as instalações das usinas de Angra 1 e 2, no Rio. Segundo ele, o plano de contingenciamento prevê que ¿os 30 milhões de metros cúbicos poderiam ser cortados¿.

¿Desligaríamos térmicas, mudaríamos o combustível que abastece as indústrias e os carros poderiam usar gasolina ou álcool. Portanto, se amanhã viesse a acontecer isso, não haveria problema¿, disse, atenuando o impacto da medida para a produção de eletricidade, a indústria e o consumidor.

Para o consultor Marco Tavares, da GasEnergy, a lógica determina que os cortes atinjam primeiro o consumidor de GNV, mercado de 5 milhões de metros cúbicos por dia, que pode trocar facilmente o combustível por gasolina ou álcool. Ele lembra que na Argentina, em períodos de baixa oferta de gás, o governo garante um incentivo para a substituição de combustíveis, modelo que poderia ser pensado no Brasil, caso a crise boliviana provoque algum corte de prazo mais longo.

Já o mercado térmico consome em torno de 15 milhões de metros cúbicos por dia. Na quarta-feira, duas usinas produziram abaixo do programado por conta de falta de gás, uma no Rio e outra em Minas Gerais.

Jorge Boland, diretor da Transierra, que opera o Gasyrg, disse que pretende restabelecer ¿em um ou dois dias¿ o fluxo total da tubulação, já que o assédio de opositores do governo à tubulação cessou.