Título: Cresce apreensão de menores por tráfico
Autor: Aranda, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2008, Metrópole, p. C1

É crescente o número de menores de 14 anos que chegam à Fundação Casa (antiga Febem) por participar diretamente do comércio de drogas. Em 2002, o tráfico representava 8% dos delitos cometidos por garotos nessa faixa etária. Neste ano, o porcentual chegou a 34%. E nas esquinas do centro de São Paulo os traficantes encontraram terreno fértil para ¿recrutar trabalhadores¿.

Pés pequenos e descalços, um cobertor de papelão, roupas sujas, saquinho de cola para enganar a fome. O retrato do abandono infantil serve para explicar o avanço dos meninos de rua nas fileiras do tráfico. Seguindo a lógica econômica, eles são mão-de-obra barata. O ¿salário¿, como contam, muitas vezes é só uma pedra de crack.

Viram ¿aviõezinhos¿ (vendem drogas e ficam de olho na polícia) atraídos pelo tênis de marca. Depois, acabam viciados e se arriscam no crime só para ganhar o sustento. ¿Em números absolutos, a quantidade de menores de 14 anos que chega às unidades não diferiu muito nesses últimos seis anos. Mas o que mudou foi a entrada deles, a maioria morador de rua, por tráfico de drogas, o que é assustador¿, afirma a diretora técnica da Fundação Casa, Maria Eli Bruno.

O delito mais cometido pelos menores de 14 anos que chegam à Fundação Casa é o roubo qualificado. Na seqüência vem o tráfico. Dos 401 meninos e meninas desse grupo etário internados, 149 foram flagrados roubando e 132 viraram internos por vender drogas. ¿Eles chegam aqui sem valores. Não dão importância à roupa e ao lençol limpo. No início da internação, antes de dormir, procuram o saco de lixo para forrar o chão e fazer de cama¿, diz Nilson de Sena, diretor da unidade de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, onde vivem 16 meninos, todos com 12 (idade mínima para ingressar na Fundação), 13 e 14 anos.

Justamente por serem carentes de referencial, os pequenos ficam separados dos ¿grandões¿, em unidades onde o programa pedagógico é diferenciado. Estudam, brincam, fazem artesanato e ajudam a pintar as paredes - para ¿deixar tudo com a nossa cara¿, dizem.

Para traçar a trajetória dos meninos antes do crime, Sena cita um ponto em comum. ¿Todos vêm de família desestruturada. O maior esforço é para encontrar os parentes, aproximá-los, para facilitar a reinserção social.¿ Tarefa nada simples, uma vez que muitos pais nem sabem do paradeiro dos meninos. Outros pais, ao serem achados, ainda rejeitam o contato.