Título: Investidor teme efeito dominó e foge do mercado acionário
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2008, Economia, p. B3
Liderado pelos papéis da AIG, que perderam 61%, Índice Dow Jones recua mais de 500 pontos
Patrícia Campos Mello e Leandro Modé
O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, registrou ontem a maior queda em termos de pontuação desde o atentado terrorista ao World Trade Center (WTC). A perda de 504 pontos representou uma desvalorização de 4,42%. A Nasdaq recuou 3,60% e o Índice S&P 500, que reúne as principais indústrias dos EUA, caiu 4,71%, a maior baixa porcentual desde 11 de setembro de 2001. O mercado asiático, que não funcionou ontem por causa de um feriado, abriu nesta madrugada com pesadas baixas. A Bolsa de Tóquio caía 4,5% logo no início do pregão
A liquidação no mercado foi alimentada pelo pedido de recuperação judicial do banco de investimentos Lehman Brothers e pela urgência da gigante de seguros American International Group (AIG) de levantar capital para conter a deterioração de seu valor de mercado. Além disso, o banco de investimentos Merrill Lynch, o 3º maior do setor, concordou em ser vendido ao Bank of America (BofA) por US$ 50 bilhões.
As ações aceleraram a queda na última hora de sessão, sugerindo que o impulso negativo poderá continuar nesta terça-feira. ¿Isso não tem precedentes¿, disse Anthony Conroy, chefe de transações com ações do BNY ConvergEx. ¿A Wall Street que conhecemos se foi e o grau de mudança e o ritmo com que está mudando é inacreditável.¿
As ações da AIG despencaram 60,79%, com os investidores preocupados com sua exposição aos papéis derivados de hipotecas de alto risco. O governo dos EUA pediu ao JP Morgan e ao Goldman Sachs que formem um consórcio para oferecer um crédito de US$ 70 bilhões a US$ 75 bilhões para a seguradora.
¿Não há dúvidas que estamos em meio a um efeito dominó¿, disse Art Cashin, chefe de operações no pregão da Bolsa de Nova York do UBS. ¿Esse é provavelmente o motivo pelo qual o Fed estava tão interessado em um casamento forçado para o Merrill Lynch... Devia ser o próximo alvo.¿
A compra do Merrill Lynch pelo BofA originou o maior banco dos Estados Unidos, mesmo pelo critério de ativos, ultrapassando o Citigroup. Mas as ações do BofA caíram 21% ontem porque o mercado achou que o preço pago pelo Merrill foi muito alto. ¿O Merrill era a bola da vez e sua ação não ia parar de cair¿, disse ao Estado um operador.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
O Lehman Brothers entrou com pedido de recuperação judicial ontem de manhã, depois de sua busca desesperada por um comprador ter fracassado no fim de semana. Trata-se da maior operação desse tipo da história dos EUA - o banco tem ativos de US$ 639 bilhões e dívidas de US$ 613 bilhões, segundo o pedido entregue à Justiça.
Quarto maior banco de investimentos dos EUA, o Lehman tem 158 anos e 25 mil funcionários no mundo. Sobreviveu à depressão dos anos 30, mas sucumbiu à crise das hipotecas.
No fim de semana, o governo americano se recusou a dar garantias ao BofA ou ao Barclay¿s para adquirirem o Lehman. Os bancos, então, desistiram do negócio. Trata-se de uma mudança radical no Tesouro. Em março, o governo emprestou US$ 29 bilhões para o JP Morgan comprar o Bear Stearns, então à beira da falência.
¿Foi uma amostra de que acabou, o governo não vai mais resgatar ninguém¿, disse ao Estado Mike Gallagher, diretor de pesquisa da IDEAglobal. ¿(Isso) mostrou que o governo terá de fazer escolhas, não tem dinheiro para resolver tudo¿, afirmou Ricardo Amorim, diretor executivo para Mercados Emergentes do banco WestLB.
A quebra do Lehman foi também uma maneira de o Tesouro cortar o ¿risco moral¿: o fato de o governo socorrer os bancos, em vez de deixá-los enfrentar as conseqüências dos riscos assumidos.
O pedido de recuperação (que tem como objetivo proteger seus ativos e evitar uma chuva de execuções que dilapide o patrimônio restante) compreende a Lehman Holdings e deixa de fora as subsidiárias, como a divisão de investimentos, cuja venda já está sendo negociada.
Segundo analistas, a limpeza do sistema financeiro americano, recheado de títulos lastreados em hipotecas, está apenas começando. ¿Vamos ver outras grandes instituições financeiras quebrarem¿, avisou o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan.
¿O mundo está caindo, mas não é surpresa - tínhamos de passar por essa limpeza, com alguns bancos quebrando e outros sendo comprados¿, diz Amorim. ¿Quanto mais rápido for esse processo, mais rápido os EUA saem da crise.¿