Título: Fiocruz consegue produzir Efavirenz
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2008, Vida&, p. A18
Um ano e 4 meses após a quebra de patente, pedido de registro do anti-retroviral foi encaminhado ontem à Anvisa
Lígia Formenti, BRASÍLIA
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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguiu uma vitória científica aguardada há tempos por representantes da comunidade internacional e pelo governo brasileiro: a produção do genérico do anti-retroviral Efavirenz. É o primeiro medicamento antiaids fabricado no País após a quebra de patente.
Ontem, a Fiocruz protocolou na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido do registro da versão genérica do remédio, cuja patente foi quebrada em maio de 2007. A expectativa é de que o Programa Nacional de DST-Aids incorpore a versão nacional do medicamento tão logo os primeiros lotes estejam disponíveis, no primeiro semestre de 2009. O Efavirenz é um dos 17 remédios que compõem o coquetel - as drogas associadas inibem a reprodução do HIV no sangue.
¿Esta é uma resposta para comentários de que o Brasil não tinha condições de produzir o remédio¿, afirmou ao Estado o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. A fabricação do Efavirenz pela Fiocruz estava prevista para meados deste ano. Mas problemas no preparo da matéria-prima provocaram um atraso no cronograma. Na semana passada, com a aprovação de testes de biodisponibilidade e bioequivalência - essenciais para a fabricação do genérico - o processo para o registro do medicamento foi iniciado.
Antes da quebra de patente, o País gastava cerca de R$ 90 milhões com a compra do remédio, usado por 77 mil pacientes. Com a aquisição do genérico produzido na Índia, a economia superou os R$ 25 milhões anuais.
Agora, a agilidade da produção vai depender da análise do pedido de registro, sob responsabilidade da Anvisa. Como é de interesse público, o processo terá prioridade na avaliação. Os estoques do genérico indiano do Efavirenz duram até meados de 2009. A idéia é que, terminado o estoque, a Fiocruz possa abastecer toda a demanda nacional como produto fabricado no País.
Temporão ainda não fala de preços. Mas garante que o genérico do Efavirenz terá um custo ¿competitivo¿ com o medicamento que hoje é importado da Índia. ¿Mesmo que (o preço) seja um pouco superior, a estratégia é importante. Reforça a indústria nacional, dá independência ao País¿, justificou o ministro. O preço do medicamento da Fiocruz, disse Temporão, ¿será infinitamente menor do que o remédio de marca¿, produzido pela Merck.
O ministro acredita ainda que a produção do remédio traz boas perspectivas para a indústria nacional. ¿É uma aposta na parceria público-privada que deu certo.¿ O remédio é feito em conjunto com três laboratórios nacionais: Cristália, Nortec e Globequímica. As empresas ficaram encarregadas de produzir a matéria-prima e a Fiocruz, o produto final. ¿O Brasil é outro¿, resumiu. Na avaliação do ministro, no cenário internacional, o País deixa de ser considerado um comprador para iniciar outro tipo de relação. ¿A de parcerias, produção em conjunto. Queremos que empresas venham aqui desenvolver produtos.¿
FRASE
José Gomes Temporão Ministro da Saúde
¿Essa é uma resposta para comentários de que o Brasil não tinha condições de produzir o remédio (...) mesmo se ele (o preço do anti-retroviral nacional) for um pouco superior, a estratégia é importante. Reforça a indústria nacional, dá independência ao País¿
NÚMEROS
R$ 90 milhões foi o valor gasto pelo Ministério da Saúde, em 2007, para a compra do Efavirenz para cerca de 77 mil pacientes
US$ 1,56 a unidade era o valor cobrado pela Merck, fabricante do medicamento, enquanto o País reclamava que fosse cobrado valor igual ao da Tailândia: US$ 0,65
184 mil brasileiros recebem o coquetel gratuitamente pelo Ministério da Saúde
R$ 25 milhões anuais foram economizados pelo governo brasileiro com a aquisição do genérico produzido na Índia