Título: Lula nega previamente asilo a opositor boliviano ise Chrispim
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2008, Internacional, p. A14
Parentes de governador preso chegaram a consultar consulado em Cobija
Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA
Para demonstrar que não interferiria no conflito interno boliviano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou a diplomacia brasileira a negar asilo político ao governador do Departamento de Pando, Leopoldo Fernández. A prisão de Fernández havia sido determinada no domingo pelo gabinete de Evo, mas foi adiada por temor de sua detenção prejudicasse o apoio da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) - que se reuniu segunda-feira, no Chile - a seu governo. Fernández foi detido terça-feira.
No domingo, seus parentes apresentaram o pedido de asilo político no Vice-Consulado do Brasil em Cobija. No mesmo dia, o caso foi levado ao Itamaraty e, na segunda-feira, Lula, ainda no Chile, tomou a decisão final. O Itamaraty e o Palácio do Planalto não se pronunciaram sobre o assunto.
Desde terça-feira, o Itamaraty está ciente de que a prisão de Fernández contraria os preceitos legais da Bolívia e o status de imunidade dos governadores dos departamentos (Estados). Fernández foi preso sob a acusação de ter desacatado o estado de sítio em Pando e incitado os confrontos entre manifestantes pró-Evo e opositores, que terminaram com 18 mortos. Pelos trâmites normais, ele deveria ter sido julgado antes pelo Congresso. Ontem, um pedido de habeas-corpus para Fernández foi rejeitado.
¿Na tolerância aos atos do governo boliviano, pior que o Brasil, só a OEA e a Argentina, que deu apoio incondicional a Evo¿, afirmou uma fonte do governo que pediu anonimato.
Para o coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo, Gilberto Dupas, a concessão de asilo a Fernández tenderia a esvaziar a pressão da vizinhança em favor do diálogo entre o governo boliviano e a oposição e os levaria a radicalizar suas posições. ¿Houve excesso de cautela, um receio de complicar ainda mais a situação¿, avaliou Dupas. ¿Não poderia, naquele momento, pôr em risco a mediação da Unasul.¿
Fontes do próprio governo, entretanto, avaliam que a decisão de Lula refletiu um forte conteúdo político-ideológico. Mas mostrou coerência com outras duas atitudes do Palácio do Planalto. A primeira, de permitir a concessão do status de refugiado político ao ex-padre colombiano Francisco Antonio Cadena Collazos, conhecido como Oliverio Medina - considerado o ¿embaixador¿ das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil. A segunda foi a deportação ao governo de Raúl Castro, de Cuba, dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara. Ambos haviam desertado durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007.