Título: Alckmin ignora Serra e mantém ataques pesados contra Kassab
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2008, Nacional, p. A4

No rádio e na TV, guerra continua, na contramão do que pregam principais líderes do PSDB e do DEM

Ana Paula Scinocca, Carlos Marchi e Silvia Amorim

A ação do governador José Serra (PSDB) na semana passada para tentar estancar a crise no PSDB e salvar a aliança com o DEM para o segundo turno da eleição em São Paulo surtiu efeito zero até ontem. No rádio e na TV, os ataques entre o tucano Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) prosseguiram em alta temperatura, na contramão do que pregam os principais líderes das duas siglas.

Em resposta às acusações de Alckmin de que em 2004 Serra não o queria como vice em sua chapa, Kassab mostrou em seu programa fotos ao lado de líderes tucanos - como o próprio Serra, o governador Mário Covas e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E ressaltou ter ¿respeito político¿ e ¿coerência¿. Foram mostradas ainda imagens da campanha de 2004 em que Alckmin aparece apoiando e aplaudindo a chapa que venceu as eleições.

Já o tucano não recuou nas críticas ao desempenho do prefeito, dizendo que ele ficou ¿devendo muito na educação e saúde¿ e deixou crianças fora da creche. ¿Isso é imperdoável.¿ Nas inserções, o PSDB voltou a usar as imagens de Kassab e Alckmin divididas meio a meio, enquanto o locutor cita as ligações de cada um, insistindo em identificar Kassab com Pitta e Alckmin com Covas.

A campanha alckmista também ataca no front jurídico. Os tucanos entraram na Justiça Eleitoral com representação contra a utilização pelo prefeito do depoimento do tucano José Gregori em seu favor . No horário do DEM, Gregori ressalta que a aliança Serra-Kassab representa ¿um pacto pela cidade¿. O PSDB já pedira no sábado ao TRE a retirada do depoimento, mas como ele voltou a ser usado ontem, estava prevista a apresentação de novo recurso.

CARVALHO

O confronto se acirrou ainda após críticas do secretário municipal de Governo, Clóvis Carvalho - um dos maiores aliados de Serra -, ao comportamento Alckmin. Por conta dos ataques a Kassab, Carvalho acusou Alckmin de ¿oportunista¿ e de não ter ¿compostura¿ na campanha.

A declaração de Carvalho, ex-ministro do governo FHC, publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, levou a cúpula dos dois partidos a cobrar entendimento a menos de 15 dias da eleição. De Maceió, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), exigiu respeito, e não confronto, para que as siglas estejam juntas no segundo turno.

¿Não há problema em haver um embate administrativo, mas nada que desautorize ou diminua lideranças. Isso só ajuda o adversário, que é o PT¿, disse Guerra. O pedido de armistício veio também do DEM. ¿Os partidos são maiores do que as pessoas. Não tenho dúvida de que dessa maneira estaremos juntos no segundo turno¿, afirmou o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Mesmo assim, os alckmistas retomaram a carga. O líder na Câmara, José Aníbal (SP), por exemplo, classificou Carvalho de ¿insignificante¿.

O embate mais agressivo entre Alckmin e Kassab começou na semana passada, quando o tucano acusou o antigo aliado de ter dado um golpe em Serra para ser vice na prefeitura. No mesmo dia, o governador saiu em defesa do prefeito.

A disputa mais dura teve início exatamente quando as pesquisas de intenção de voto começaram a apontar empate técnico entre os dois candidatos.

PRESSÃO

A crítica de Carvalho ontem não veio à toa. Foi a solução encontrada pelos tucanos pró-Kassab para atender à pressão da cúpula do DEM, insatisfeita com a defesa tímida de Serra. Mais do que um gesto em defesa do prefeito aliado, Carvalho entrou em cena para evitar trincas na aliança PSDB-DEM com vistas à candidatura de Serra à Presidência em 2010. ¿É o que o DEM esperava como resposta para as críticas do Geraldo¿, afirmou o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, um dos tucanos apoiadores de Kassab.

A reação do lado alckmista indica o oposto. O presidente municipal do PSDB em São Paulo, José Henrique Reis Lobo, avisou que acionará a comissão de ética do partido para que avalie se Carvalho deve ser expulso.