Título: Abin é a Geni: feita para apanhar e boa de cuspir
Autor: Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2008, Nacional, p. A21

Kluwe defende a saída do general Jorge Armando Félix do comando do Gabinete de Segurança Institucional

FELIPE RECONDO e MARCELO DE MORAES

O presidente da Associação de Servidores da Abin, Nery Kluwe de Aguiar Filho, propõe mudança radical na estrutura da Agência Brasileira de Inteligência. O primeiro passo seria tirar o comando do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Armando Félix. A seguir, a entrevista:

Estamos vivendo um apagão da inteligência no Brasil?

Pode-se afirmar que sim. Não no sentido de que os órgãos estejam apagados e não estejam produzindo. Mas falta racionalização do sistema. O próprio nome do Gabinete de Segurança Institucional me parece controvertido, porque trata da segurança das instituições no regime democrático em que as instituições estão dando provas de que estão sólidas. Isso aí acabou com a centenária Casa Militar da Presidência.

Qual é o problema da estrutura do GSI?

O gabinete assumiu múltiplas funções: segurança das autoridades, Secretaria Nacional Antidrogas e autoridade de contraterrorismo. Então o GSI vai se assenhoreando de funções que embaraçam a atividade da Abin.

E como deveria ser coordenada a atividade de inteligência?

Nossa proposta é que o presidente tenha assessor especial de inteligência, para fazer a conexão das diversas atividades.

A Abin seria desvinculada do GSI?

Sem dúvida. A estrutura atual está ultrapassada.

Como vocês avaliam a situação do general Félix?

A situação dele é desconfortável e incômoda. Houve um desgaste muito grande. Ele não defendeu com veemência a Abin quando foi depor na CPI dos Grampos e admitiu a hipótese de que poderia ter havido desvio de conduta. Entendemos que não é esse o perfil de um chefe de órgão de inteligência.

O depoimento foi ruim?

Foi pusilânime. Se ele não tinha firmeza para defender a Abin, ele que procurasse firmeza para defender com rigor e rechaçar essa hipótese de que estaríamos envolvidos em grampos.

Diante disso, você acha que a imagem da Abin está prejudicada?

Hoje a Abin é a Geni, do Chico Buarque: `Ela é feita para apanhar, ela é boa de cuspir¿.

Vocês grampeiam investigado?

É ferramenta insignificante para a gente. Vivemos de recrutamento de fonte, identificação de colaboradores, montagem de rede.

Você acha que há no Brasil uma ¿grampolândia¿?

Dentro do governo não, mas há um descontrole da prática.