Título: Resgate financeiro nos EUA custará US$ 700 bilhões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2008, Economia, p. B1

Plano entregue ontem pelo governo Bush ao Congresso prevê recompra de dívidas podres vinculadas a hipotecas

LEANDRO MODÉ COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O maior resgate financeiro dos Estados Unidos desde a Grande Depressão dos anos 30 custará US$ 700 bilhões. Esse é o valor que consta no projeto entregue ontem de manhã por representantes do governo George W. Bush a lideranças republicanas e democratas do Congresso.

O texto pede a autorização de deputados e senadores para que a Secretaria do Tesouro possa recomprar hipotecas e dívidas podres até esse limite ao longo dos próximos dois anos.

O plano também prevê o aumento do limite de endividamento do setor público de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões, mas não detalha o que o governo obterá em troca das instituições financeiras.

¿É um pacote grande porque era um grande problema¿, disse Bush, depois de se encontrar com o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe. ¿Vamos trabalhar com o Congresso para finalizar o projeto de lei o mais rapidamente possível.¿

Bush disse, ainda, que seu primeiro instinto foi deixar os mercados continuarem operando livremente em vez de oferecer ajuda governamental. No entanto, o presidente afirmou ter sido aconselhado por especialistas de que seria necessário um maciço auxílio do governo para contornar a crise.

A proposta dá ao secretário do Tesouro, Henry Paulson, poder ilimitado para comprar até US$ 700 bilhões de uma ampla gama de papéis lastreados em hipotecas. Embora o plano tenha o limite de prazo de dois anos, o Tesouro poderá ficar com os papéis comprados por quanto tempo achar necessário. Todos os títulos adquiridos por meio do programa devem ser ligados a hipotecas anteriores a 17 de setembro deste ano.

O plano também garante a imunidade do Tesouro contra quaisquer ações legais. Além disso, dá a Paulson permissão para contratar instituições financeiras privadas para conduzir o programa, assim como para criar novas entidades que comprariam títulos hipotecários e emitiriam papéis.

O Tesouro, o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) e o Congresso estão envolvidos desde quinta-feira na negociação de um pacote que combata a atual crise financeira. A quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, segunda-feira, e a intervenção governamental na gigante de seguros AIG, na terça-feira, provocaram nos investidores o temor de uma crise sistêmica nos EUA.

O presidente do Fed, Ben Bernanke, reuniu-se na sexta-feira com um grupo de congressistas e disse, a portas fechadas, que a economia americana se aproximava de um ¿cataclismo¿ se não agisse rapidamente, segundo o The New York Times.

CONTRAPARTIDA

Líderes do Congresso, sobretudo do Partido Democrata, sinalizaram apoio ao projeto do governo Bush. Mas querem incluir no plano formas mais diretas de ajuda às pessoas comuns, especialmente aos mutuários com problemas.

A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, disse que se compromete com um ação bipartidária. Mas frisou que se deveria fazer algo pelos cidadãos comuns (citando a expressão Main Street, em um trocadilho com Wall Street, que simboliza o mercado financeiro).