Título: Indústria e comércio começam a rever planos para fim do ano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2008, Economia, p. B5

Mesmo com a crise global afetando o crédito, analistas falam em crescimento de 6% das vendas em dezembro

Embalados pela expansão do mercado doméstico, vários setores da economia já vêem necessidade de ajustar os planos para enfrentar as conseqüências da crise financeira internacional. Indústria e comércio estudam a revisão de pedidos para o fim do ano, de um lado preocupados com a alta do dólar e de outro com a possibilidade de redução das encomendas.

Isso porque o crédito ao consumidor deve ficar mais escasso, com prazos mais curtos e juros maiores. No setor imobiliário, a turbulência não deve comprometer as operações, já que as principais fontes de crédito são internas, mas a alta dos juros pode produzir reflexos no futuro.

No front do agronegócio, além da possível redução na demanda mundial por alimentos, analistas acreditam que o financiamento privado para o plantio das lavouras em 2009 se tornará mais criterioso, trazendo mais dificuldades aos produtores.

A possibilidade de aperto no crédito ao consumidor preocupa o varejo, mas, apesar das incertezas, a crise internacional não deve estragar a festa de fim de ano, na visão de empresários do comércio e da indústria e de economistas.

A expectativa é de que o volume de vendas em dezembro cresça 6% ante igual período de 2007, calcula o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, com base na Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro de 2007, houve alta de 9,5% em relação a 2006.

Mas não há dúvida de que o crédito será afetado. Embora a expectativa de crescimento dos empréstimos bancários continue em alta - ao menos até dezembro -, as condições devem ficar menos favoráveis, com prazos mais curtos e juros maiores. ¿Empréstimos de 80 e 90 meses terão as parcelas reduzidas para 48 e 60 meses¿, diz o vice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo.

O problema dos bancos, neste momento, não é falta de dinheiro para emprestar aos consumidores, mas incerteza em relação ao futuro, destaca o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

¿O aumento dos juros é algo que pode ocorrer com a crise¿, diz Luís Antonio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A preocupação do setor imobiliário também é com o futuro. Segundo previsões da Abecip, os recursos da poupança - que hoje alimentam o crédito imobiliário, junto com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - devem se esgotar em dois anos.

A dificuldade de crédito também deve tirar o sono dos proprietários agrícolas. Além de uma possível redução na demanda mundial por alimentos, como reflexo do desaquecimento da economia global, bancos e tradings terão mais dificuldades para captar recursos no exterior, o que tornará o repasse de dinheiro aos produtores brasileiros mais seletivo.

¿Para a safra que está sendo plantada, a crise americana não piora o que já estava ruim¿, diz André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult.

¿A safra deste ano está sendo plantada com recursos próprios dos produtores, que tiveram lucro no passado e resolveram investir. Mas não há certeza de lucro com a safra do ano que vem¿, comenta Pessoa.