Título: Mais de US$ 1 trilhão acaba com a crise financeira
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2008, Economia, p. B6

Decididamente, esta foi uma semana dramática sob todos os aspectos. Dramática quando o Lehman Brothers quebrou, quando as bolsas despencaram e também quando o governo americano e os principais bancos centrais do mundo anunciaram a injeção em curto prazo de até US$ 500 bilhões para superar a falta de liquidez no sistema. Mais dramático ainda foi quando o secretário americano do Tesouro, Henry Paulson e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, se reuniram com os líderes do Congresso e acertaram a aprovação de uma soma enorme de recursos para continuar sustentando o mercado e evitar novo choque. Foi uma semana em que se limpou o ecossistema monetário da poluição financeira.

Uma semana que começou sob o signo da tragédia e terminou em clima de alegria tensa - afinal, houve bolsas, como a nossa, subindo mais de 9% na sexta-feira! Foi o que se viu e ouviu nas ovações do mercado quando Paulson anunciou as novas medidas que inclui uma, decisiva: o governo estuda a criação de uma instituição para absorver os créditos podres pelo mercado. Isso alivia a pressão sobre os bancos e traz um enorme alívio ao sistema financeiro.

URGÊNCIA URGENTÍSSIMA

O que não se sabe ainda é o montante de recursos que o governo americano vai pedir autorização do Congresso para atender ao mercado. Os líderes dos dois partidos, democrata e republicano, reunidos com Paulson e Bernanke, na quinta-feira, prometeram não só aprová-lo rapidamente, mas insistem para que esteja no Congresso no máximo até quarta-feira.

Como o Fed e o Tesouro, pecaram também por terem subestimado o vulto do furacão que a crise das hipotecas estava formando no Caribe de Wall Street, já em agosto de 2007.

PARECIDA, MAS DIFERENTE

Agora, querem se juntar ao governo e corrigir. Logo. Hoje, não amanhã. Se isso for feito, efetivamente, com a urgência que a situação exige, teremos superado esse choque que, sem dúvida alguma, foi o maior desde 1929, afirmam todos. Maior, mas não tão grave e sem as mesmas conseqüências catastróficas do crash de 29. Os bancos centrais hoje estão unidos e entrosados. Mais ainda, os bancos centrais estão agindo numa frente única não tirando, como então se fez, mas injetando dinheiro para aumentar a liquidez e desafogar o mercado.

QUANTO MAIS?

Ao responder a uma pergunta sobre valores, Henry Paulson preferiu não dar cifras, mas forneceu uma informação preciosa: ¿centenas de bilhões de dólares¿. Mas, na manhã de sábado, o tesouro anunciou que o valor a ser pedido será de US$ 700 bilhões. Somando ao que já foi posto à disposição do mercado pelo Fed, e o que os outros bancos centrais já aplicaram, o socorro total para por fim a crise passa de US$ 1 trilhão.

Na sexta-feira, os analistas já falavam em US$ 1 trilhão. Agora, sabe-se que será mais. Mas os analistas ressaltam, porém, que nem tudo será perdido, pois uma vez saneado o mercado, os títulos comprados agora a preços baixos, vão se valorizar. Mesmo assim, a perda será grande. Os contribuintes americanos sairão prejudicados.

Embora tenham surgido críticas isoladas - poucas -, a maioria dos economistas e acadêmicos, não envolvidos com o mercado e que, portanto, não estavam defendendo interesses próprios, concordou com Paulson e Bernanke. Não havia outra saída. O erro foi não ter agido antes.

FALA O MESTRE

O venerável professor Paul A. Samuelson, em cujo manual pioneiro muitos aprenderam as primeiras noções de macroeconomia, saiu do seu silêncio. Em artigo publicado no Estado de sexta-feira, ¿A era de incertezas passa a ser a era de ansiedade¿, Samuelson aprova as medidas do Tesouro e do Fed, e implicitamente, as dos demais bancos centrais. Aprova também, e totalmente, o não socorro ao Lehman Brothers.

Após historiar as crises passadas, que ele, como economista vivenciou intensamente, Samuelson faz uma ressalva a Bernanke: ¿É estranho que, após ter admitido que a crise (de setembro) é uma dessas coisas, que só acontecem em um século, ele não tenha cortado ¿ um pouquinho¿ o juro na última terça-feira, um dia antes da tempestade. Samuelson sabe que isso não ajudaria muito o tumultuado mercado financeiro, mas pesaria no estímulo ao consumo interno, do qual vai depender ainda mais a retomada do crescimento.

CALMA, PEDE SAMUELSON

Mas quanto tudo isso vai durar, se pergunta Samuelson. Vale a pena transcrever a resposta do velho mestre, um dos mais respeitados, ainda hoje: ¿Nada de pânico! Acho que deveremos esperar uma debilidade macroeconômica maior para o futuro, que poderá persistir até o fim de 2009¿. É isso. O leitor tem agora a palavra do mestre. Desaceleração econômica mais acentuada por um ano e retomada do crescimento a partir daí.

Falou o mestre que todos nós respeitamos e tanto nos ensinou. Nada de caos. Foi só uma terrível pancada que o mercado financeiro deu na economia, mas está sendo superada pela ação dos governos e bancos centrais. Dói, machuca, vamos sofrer, mas passa. E quero ser otimista sim, a nossa economia sairá dessa luta mais saudável e forte.

*E-mail: at@attglobal.net