Título: Pré-sal será isca para indústrias
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2008, Economia, p. B19

Petrobrás quer atrair para o País fabricantes de equipamentos para exploração em águas profundas

Nicola Pamplona

A Petrobrás já tem as linhas mestras do plano de incentivo à indústria nacional fornecedora de bens e serviços para o setor de petróleo. A idéia é concentrar os investimentos e antecipar a contratação de grandes pacotes de equipamentos. Isso garantiria escala para atrair fornecedores estrangeiros ao País e também viabilizaria planos de expansão da indústria nacional. O objetivo é manter no Brasil o maior volume possível de encomendas.

O mercado aposta em uma mudança no modelo de contratação de bens e serviços - com a encomenda de grandes pacotes de equipamentos, em vez de licitações divididas por projetos específicos. Com isso, a estatal pode juntar numa só licitação volume suficiente para vários projetos. Isso garante escala para justificar investimentos em capacidade de produção.

O primeiro sinal de que vem aí uma mudança no modelo de contratação de bens e serviços foi dado no início da semana, quando a Petrobrás anunciou a encomenda de oito cascos para plataformas no Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, que a empresa pretende transformar num grande produtor em série de embarcações.

Segundo especialistas, a mudança é reflexo da descoberta de uma série de reservatórios ao mesmo tempo. ¿Não há capacidade mundial de fabricação para o pré-sal. Teremos que expandir essa capacidade e vamos trabalhar para que isso ocorra no Brasil¿, afirmou o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli. ¿Temos que apoiar e dar suporte direto a alguns fornecedores estratégicos que têm demonstrado interesse em se instalar no País¿, completou.

No mercado, a declaração foi encarada como um sinal de que a companhia privilegiará empresas que invistam no País.

A estratégia já deve ser posta em prática na encomenda dos conveses das plataformas do pré-sal, cujos cascos serão construídos em Rio Grande. A expectativa é que a estatal licite pacotes de equipamentos para as oito plataformas, que serão instaladas entre 2016 e 2017. A empresa já vem conversando com fornecedores estrangeiros sobre a possibilidade de instalação de unidades no Brasil. ¿Pelo volume dos investimentos, temos capacidade de alavancagem para atrair esses fornecedores¿, disse Gabrielli.

O sinal já é suficiente para motivar algumas empresas a investir no País. ¿O momento é esse e temos que aproveitar¿, diz o diretor-presidente da divisão latino-americana da alemã Schulz, Marcelo Bueno. A companhia concluiu a construção da segunda fábrica no Brasil e já inicia as obras da terceira unidade. O investimento previsto é de US$ 60 milhões.

A fabricante norueguesa de equipamentos submarinos Aker Solutions decidiu se antecipar à demanda e vai dobrar a capacidade de produção de válvulas para poços petrolíferos. A companhia disputa o fornecimento para o projeto-piloto de Tupi e está de olho no pré-sal.