Título: Alckmin acha rival 'dissimulado'; Kassab vê nervosismo de tucano
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2008, Nacional, p. A4
Ex-governador acusa adversário de lotear cargos na prefeitura e de `se passar por tucano¿ para confundir população
Silvia Amorim e Ricardo Brandt
Em mais um round da disputa por uma vaga no segundo turno das eleições, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin, acusou ontem o adversário Gilberto Kassab (DEM) de ser ¿dissimulado¿ e de ¿usar a máquina¿ para cooptar tucanos e destruir o PSDB. A nova ofensiva fez a campanha de Kassab mudar a estratégia e colocar o próprio candidato para rebater os ataques.
¿O Kassab é dissimulado. Ele usa as pessoas. Quer se passar por tucano e confunde a população¿, atacou. ¿Ele, que chegou indiretamente à prefeitura, só tem uma estratégia desde o início da eleição, que é minar, destruir o partido que o levou ao poder.¿ A declaração foi feita durante sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo e repetida pelo candidato diversas vezes ao longo do dia.
A artilharia não parou por aí. Alckmin disse ainda, sem meias palavras, que o antigo aliado promoveu um loteamento político na prefeitura, após a saída do governador José Serra (PSDB). ¿Quando o Serra saiu da prefeitura, houve loteamento de cargos.¿ Insinuando fisiologismo na relação entre Kassab e os tucanos que o apóiam, argumentou: ¿Que mágica é essa que vereadores da gente não apóiam o próprio partido?¿ Minutos depois, ele mesmo respondeu: ¿Infelizmente alguns (tucanos) foram cooptados e quem está por trás disso é o seu Kassab. Ele usa a máquina.¿
Ao mesmo tempo, o candidato tucano ontem fez de tudo para desvincular Serra das críticas ao prefeito. ¿Eu respeito meu querido governador. Não acredito que o Serra não apóie o PSDB.¿
Apesar dessa confiança declarada por Alckmin, foi o próprio governador quem estimulou Kassab a disputar a reeleição e pôs pessoas de sua confiança a serviço de sua candidatura. Nos bastidores, é o maior apoiador do prefeito. Além disso, Serra conta com o DEM como um dos pilares em seu plano de disputar a Presidência em 2010.
GOLPE
O enfrentamento entre Alckmin e Kassab já dura 15 dias e começou com a queda do candidato do PSDB nas pesquisas e a escalada do prefeito. O embate mais pesado, contudo, aconteceu na semana passada, quando o tucano acusou o adversário de ter dado um golpe no PSDB para ser o vice de Serra na disputa pela prefeitura em 2004. Obrigado a entrar em cena, o governador contestou Alckmin. O revide kassabista mais contundente, porém, veio anteontem pela boca de outro tucano. O secretário municipal de Governo, Clóvis Carvalho, chamou Alckmin de ¿oportunista¿ e de ter perdido a ¿compostura¿ na campanha.
O DEM, que até então poupava Kassab do choque direto com Alckmin, reavaliou sua estratégia diante dos ataques de ontem e pôs o prefeito para rebater pessoalmente o tucano. ¿Ele (Alckmin) está muito nervoso¿, ironizou o prefeito, após campanha na favela Heliópolis. ¿A pergunta que eu faço é: `Será que ele está nervoso por que não está em segundo lugar nas pesquisas ou por que nós estamos ultrapassando ele (sic) nas pesquisas?¿
As pesquisas mostram, contudo, que não é possível falar em segundo colocado. Tanto no Ibope como no Datafolha, Alckmin e Kassab estão tecnicamente empatados. A última pesquisa Ibope, contratada pelo Estado e pela TV Globo, mostrou ambos com 21% das intenções de voto.
Apesar do revide de ontem, a orientação da coordenação de campanha de Kassab é manter-se na defensiva, por avaliar que ataques são prejudiciais à imagem do candidato. Já os alckmista, por conta das declarações de Carvalho, desistiram de interromper a ofensiva - o que cogitava no fim de semana. E prometem mais carga contra o prefeito.
Ontem, durante a visita a Heliópolis, Kassab escapou de ser atingido por ovo jogado da janela de uma casa enquanto discursava na inauguração de um comitê. O ovo atingiu um dos seguranças do prefeito.