Título: Em SP, candidatos ocultam projetos para minorias sexuais
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2008, Nacional, p. A10

Cinco elaboraram propostas, mas não falam no programa eleitoral nem citam em seus sites

Roldão Arruda

O tema é difícil de ser abordado. Tão difícil que, na cidade mais cosmopolita do País e com a maior parada de orgulho gay do planeta, ele não aparece na propaganda gratuita no rádio e na TV. Não é sequer destacado nos sites de campanha. Mas isso é só na superfície. Quem fizer uma pesquisa mais detalhada pelos sites e trocar alguns e-mails com os assessores dos candidatos, vai perceber que o assunto virou item indispensável de campanha. A prova disso: dois seis principais candidatos à cadeira de prefeito paulistano, cinco estudaram a questão da discriminação das minorias sexuais e fizeram alentadas propostas com o intuito de combatê-la.

Os cinco são Marta Suplicy (PT), Gilberto Kassab (DEM), Geraldo Alckmin (PSDB), Soninha (PPS) e Ivan Valente (PSOL). O único que não se alinha no grupo é Paulo Maluf (PP), dono de 7% das intenções de voto. Ele não tem nada em seu site a respeito da questão e seus assessores não têm nada a acrescentar.

Mas nem Maluf está desatento. Numa entrevista, indagado sobre o projeto de lei que prevê a parceria legal entre homossexuais, fez o seguinte: primeiro destacou que sua preferência é heterossexual, como sempre faz; e depois manifestou simpatia pela questão.

A preocupação dos candidatos pode ter várias razões. Uma delas é o sucesso da parada gay - não só do ponto de vista da visibilidade das minorias sexuais, mas também em termos comerciais. Outra é o fato de Marta, primeira colocada nas pesquisas, ter uma ligação histórica com o tema e com organizações de militância gay. Foi ela quem apresentou ao Congresso, em 1995, a primeira proposta prevendo a parceria entre homossexuais. Uma terceira questão a ser analisada é o acoplamento cada vez direto entre defesa dos direitos humanos e combate às discriminações de minorias.

Dos programas explicitados até agora pelos candidatos, o que mais se alonga nesta área é o do tucano Alckmin. Ele diz que seu partido foi o que mais fez pela população LGBT (lésbicas, gays, travestis e transexuais) na cidade. Cita como exemplo ter sido sob a gestão tucana que surgiu a atual Coordenaria de Assuntos da Diversidade Sexual, vinculada à Secretaria Especial de Participação e Parceria - cuja missão é a defesa dos direitos humanos.

Curiosamente, seu concorrente direto, Kassab, também alinhava a coordenadoria entre suas realizações e promete ampliá-la, estendendo as ações em direção à periferia da cidade.

Uma das propostas mais radicais é de Valente. Segundo o deputado Carlos Gianazzi (PSOL), que disputa o cargo de vice-prefeito, em caso de vitória da chapa, a atual coordenadoria será transformada numa secretaria.

ALBERGUES

A candidata Soninha é capaz de discorrer longamente sobre o assunto. Diz, por exemplo, que, embora exista uma discriminação generalizada, alguns subgrupos são mais vulneráveis que outros. Cita o caso dos gays que fazem parte da chamada população de rua. Eles seriam discriminados até na hora em que procuram vagas em albergues.

Marta mostra mais uma vez proximidade com os grupos militantes, dizendo que pretende implementar o chamado Programa São Paulo sem Homofobia, seguindo as diretrizes da Conferência Municipal LGBT, realizada em março. ¿Vamos trabalhar contra toda forma de discriminação¿, disse a candidata, respondendo por e-mail às perguntas do Estado.

A pedra no sapato dos candidatos são os grupos evangélicos. Dias atrás, ao participar de um encontro com pastores, Kassab quase foi confrontado com um abaixo-assinado contra o Projeto de Lei 122 - que tramita no Congresso e propõe a criminalização da homofobia. O prefeito saiu do encontro antes que lhe trouxessem o texto, mas avisou: ¿Minha posição é a favor da diversidade.¿ Nesta semana foi a vez de Marta. Diante de um grupo de batistas, frisou: ¿Sou a favor do respeito à dignidade das pessoas.¿