Título: CPI quer chamar Unicamp para fazer nova perícia
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2008, Nacional, p. A16

Itagiba acredita em isenção do laudo da PF sobre escuta, mas desconfia de ação `paralela¿ de federais com Abin

Eugênia Lopes

O presidente da CPI dos Grampos, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), anunciou ontem que vai contratar uma perícia particular, provavelmente da Unicamp, para verificar se as maletas da Polícia Federal poderiam ser usadas para escutas clandestinas. A mesma perícia também fará averiguação dos equipamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Integrantes da CPI estão convictos de que o laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, que detectou a existência de cinco aparelhos de escuta ambiental e um equipamento capaz de fazer interceptação telefônica analógica na Abin, não é definitivo.

¿O laudo da PF é importante, mas persistem as dúvidas. Afinal de contas que tipo de estrutura dispõe a Abin?¿, questionou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), um dos integrantes da comissão de inquérito.

¿Foi um laudo desenhado para não nos levar a uma conclusão e manter todas as portas abertas¿, disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que também participa da CPI dos Grampos. Para Itagiba, o laudo da PF foi ¿isento¿, mas ele suspeita que o grampo telefônico que captou a conversa entre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) tenha sido feito por ¿uma estrutura paralela¿ da Polícia Federal com a Abin.

Itagiba espera que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, envie até o início da semana a relação de todos os aparelhos adquiridos pela Comissão de Compras do Exército em Washington.

A CPI também quer fazer um levantamento completo de quantas maletas capazes de fazer escutas telefônicas existem no governo federal. A CPI tem notícia de que existiriam dez maletas desse tipo compradas para fazer a segurança de autoridades durante os Jogos Pan-Americanos, em julho de 2007. ¿Precisamos saber quantas maletas de interceptação existem e em que órgãos estão do governo federal¿, disse Itagiba.

Com a perícia nas maletas da PF, a CPI dos Grampos pretende descobrir se ocorreram interceptações clandestinas. ¿Vamos verificar se os números dos telefones grampeados pela Polícia Federal são os mesmos que estão nos mandados de segurança permitindo a escuta telefônica¿, explicou Itagiba, que antes de ser eleito era delegado da PF. ¿Temos de saber se não há mesmo como apagar da memória do equipamento os números grampeados. Só assim vamos saber se houve grampo ilegal.¿

Nem a Polícia Federal nem a Abin se pronunciaram ontem sobre o laudo. O parecer diz que os equipamentos não têm capacidade de gravar conversas mantidas em aparelhos celulares de qualquer tipo. Os aparelhos analisados não poderiam, portanto, ter sido usados para grampear Mendes e o senador.

Em nota, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais criticou Itagiba. ¿As declarações do deputado Marcelo Itagiba são lamentáveis e colocam em risco a credibilidade dos órgãos periciais oficiais.¿