Título: Taro Aso e o Brasil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2008, Notas e Informações, p. A3

A escolha de Taro Aso para novo primeiro-ministro do Japão no ano do centenário da imigração japonesa no Brasil - e, oficialmente, o ¿ano da integração¿ entre os dois países - é, sem dúvida, uma boa notícia para os brasileiros. Entre os políticos japoneses mais influentes, Aso é o que melhor conhece o Brasil. Viveu em São Paulo nos anos 60, como dirigente da empresa de sua família, fala português, é presidente honorário do Comitê Executivo do Ano da Integração Brasil-Japão, integra o Grupo Parlamentar Brasil-Japão e visitou nosso país em 2007, como ministro das Relações Exteriores, para o lançamento das comemorações do centenário da imigração japonesa.

O fluxo migratório entre os dois países foi invertido nos últimos anos. Hoje vivem no Japão cerca de 320 mil brasileiros descendentes de japoneses, os dekasseguis, que viajaram em busca de emprego e renda melhores no país de origem de seus ancestrais. Se, no passado, os imigrantes japoneses no Brasil foram os grandes promotores da aproximação dos dois países, hoje são os dekasseguis que desempenham esse papel. Taro Aso tem se interessado, pessoalmente, pela situação desses brasileiros.

No campo econômico, porém, o relacionamento entre os dois países, que foi intenso nos anos 70, esfriou em razão da crise da dívida externa do Brasil na década seguinte e da estagnação da economia japonesa nos anos 90. O ano do centenário da imigração japonesa foi visto, nos dois países, como uma grande oportunidade para a retomada do intercâmbio econômico e cultural, mas os resultados concretos ainda são poucos.

A escolha do sistema japonês para a TV digital brasileira representou um avanço no processo de aproximação, e a licitação, prevista para 2009, do trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro será outra oportunidade para o estreitamento da relação comercial entre os dois países. A escolha de Taro Aso pode também ajudar nesse processo.

São muitos, porém, os obstáculos que precisam ser vencidos. Apesar das grandes possibilidades de negócios, o Brasil continua sendo um país distante das preocupações das principais empresas japonesas, com algumas exceções. Nos últimos anos, essas empresas concentraram sua atenção e seus investimentos nos países asiáticos de rápido crescimento, à frente dos quais está a China.

Além disso, como primeiro-ministro Taro Aso terá de enfrentar, imediatamente, dois problemas cruciais. Em primeiro lugar, terá que se garantir no cargo por um período razoável. Ele é o terceiro a ocupar o cargo em um ano, sucedendo a Shinzo Abe e a Yasuo Fukuda.

Bisneto de um nobre que teve papel destacado na consolidação do poder imperial no Japão no fim do século 19, Toshimitsu Okubo, e neto do primeiro chefe de governo japonês após o fim da 2ª Guerra Mundial, Shigeru Yoshida, Taro Aso enfrenta o difícil desafio de assegurar a liderança de seu grupo dentro do Partido Liberal Democrata (PLD) - que ocupa o poder há cinco décadas, com um pequeno intervalo no início dos anos 90 - e, sobretudo, a maioria de seu partido na Câmara Baixa, que escolhe o primeiro-ministro. Pesquisas indicam que o PLD tem apoio de apenas 40% do eleitorado. Na última eleição para a Câmara Alta, foi derrotado pelo Partido Democrático, que tem a maioria na Casa.

No campo econômico, Aso encontra um Japão estagnado e ameaçado pela crise financeira internacional. No segundo trimestre deste ano, a economia japonesa encolheu 3% na comparação com igual período do ano passado. Aso prometeu mudar a política fiscal para estimular a atividade econômica. Há quem tema um aumento exagerado dos gastos públicos, sobretudo com grandes obras, como os que tradicionalmente fazem os políticos do PLD que chegam ao governo. Aso diz que prefere reduzir impostos, especialmente os que oneram as empresas, o que abriria espaço para investimentos produtivos. O problema é como compatibilizar redução de impostos com a administração de uma dívida pública que já representa 180% do PIB japonês e continua crescendo.

Não são desafios fáceis.