Título: Forte crescimento do emprego
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2008, Notas e Informações, p. A3
Os três indicadores mais importantes sobre o emprego no Brasil - as pesquisas do IBGE, do Seade/Dieese e o Cadastro do Ministério do Trabalho (Caged) - apontaram, em agosto, para um crescimento extraordinário das contratações e a conseqüente queda do desemprego. Os números refletem a grande expansão da demanda interna até agora, mas parece difícil que este ritmo se mantenha, dada a retração que já se nota na economia internacional e os reflexos na nossa.
Entre julho e agosto, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, divulgada quinta-feira, houve redução do desemprego de 0,5 ponto porcentual, de 8,1% para 7,6%. Entre agosto de 2007 e o mês passado, a desocupação caiu de 9,5% para 7,6% - uma queda fortíssima de 19,2%.
A PME, que avalia os dados das seis maiores regiões metropolitanas, apontou ainda um aumento real do rendimento médio dos trabalhadores de 2,1% no mês passado, de R$ 1.228,11 para R$ 1.257,60 - que chegou a 5,7% entre os meses de agosto de 2007 e 2008. Esses porcentuais foram bem maiores (4,6% no mês e 10,3% no ano) para funcionários públicos e militares.
Dados diferentes, apurados na Pesquisa Seade/Dieese, apontaram na mesma direção: 878 mil pessoas se empregaram em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Distrito Federal, de agosto de 2007 a agosto de 2008, das quais 511 mil no setor de serviços e 206 mil no comércio. Como esta pesquisa inclui o desemprego oculto pelo trabalho precário e pelo desalento, a taxa de desemprego total é superior à do IBGE e atingiu 14,5%. Mas foi a menor dos últimos 10 anos e bem inferior à de 15,6%, há um ano.
Além da queda do desemprego, esboçou-se entre julho e agosto deste ano uma nova tendência, com a redução do número de autônomos e de empregados domésticos. Tudo indica que trabalhadores desses grupos conseguiram empregos em empresas, com carteira assinada.
Os dados do Caged, divulgados na semana passada, já haviam antecipado os do IBGE e do Seade/Dieese. Em agosto, foram contratados 239,1 mil empregados com carteira assinada, contra 133,3 mil em agosto de 2007, um crescimento de 79,1%. No período janeiro-agosto, foi aberto 1,8 milhão de vagas, 33% mais do que as 1,3 milhão registradas no mesmo período de 2007. E, nos últimos 12 meses, aumentou em mais de 2 milhões o número de empregos formais.
Com o crescimento da economia, o setor de serviços ganha importância, liderando as contratações formais. É o caso dos Serviços de Alojamentos e Alimentação, do setor de Comércio e Administração de Imóveis, do Ensino e dos Serviços Médicos Odontológicos. Por um único motivo - a entressafra - na Região Centro-Sul houve leve declínio na abertura de vagas na agropecuária.
Com o aumento dos salários reais e, portanto, do consumo, foram muito beneficiados os setores de alimentos, têxtil e vestuário e a indústria de transformação em geral.
As pesquisas conferiram destaque à construção civil, com aumento de 19,6% das contratações formais entre os meses de agosto de 2007 e 2008, segundo o Caged. Este porcentual foi confirmado por outros dados da construção civil, elaborados pela FGV Projetos, indicando que nos primeiros sete meses do ano as contratações aumentaram 103% relativamente ao mesmo período de 2007. O setor já emprega 2,1 milhões de pessoas no País e a abertura de vagas é generalizada, alcançando não apenas as áreas onde a atividade é mais forte - São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
O aumento do emprego formal significa mais acesso a serviços públicos e mais segurança, amparada por direitos trabalhistas e por depósitos no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Mas significa, também, maior acesso ao crédito - e, portanto, maior capacidade de consumo.
Até agora, o crescimento acelerado do emprego foi decisivo para explicar a aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), baseado na demanda interna. Medido por dados acumulados em quatro trimestres, o aumento do consumo das famílias e do governo e dos estoques superou o ritmo de investimentos.
A dúvida é se alcançamos o auge desse processo ou se ele ainda poderá avançar.