Título: Maioria dos docentes apóia avaliação
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2008, Vida &, p. A22

Pesquisa com 8,7 mil professores das redes pública e particular revela que 53% consideram as aulas pouco úteis

Simone Iwasso

Cerca de 45% dos professores brasileiros de ensino básico são favoráveis à existência de um sistema de avaliação do trabalho docente nas escolas particulares e públicas onde atuam, demonstrando uma disposição para dialogarem sobre seus métodos e resultados. Outros cerca de 30% se disseram indiferentes. Com isso, a maioria vai no sentido oposto à posição contrária de sindicatos da categoria.

Além disso, mais da metade deles têm uma visão crítica sobre sua atuação. Acham que o que ensinam não responde à formação de que os estudantes vão precisar no futuro, mostrando que estão sintonizados com as necessidades de mudanças apontadas por especialistas.

Os dados são de uma pesquisa feita pela Fundação SM e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Para o trabalho, foram entrevistados mais de 8.700 professores de 19 Estados brasileiros. A pesquisa será divulgada hoje em São Paulo em um seminário promovido pelas instituições.

¿De acordo com as posições das entidades representativas dos professores, seria de se esperar que os entrevistados estivessem muito mais fechados para esse tipo de proposta¿, afirma Maria Malta Campos, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e consultora da pesquisa. ¿Os resultados demonstram uma abertura para medidas de aprimoramento da qualidade do ensino que podem ser tomadas a partir de avaliações.¿

A posição dos professores em relação a métodos de avaliação aparece em outros momentos do trabalho. Quase 70% concordaram com a sugestão ¿introduzir ou reconfigurar uma avaliação externa institucional do funcionamento global da escola e dos conhecimentos e competências desenvolvidas pelos alunos¿, 65% concordaram com ¿introduzir uma divulgação pública dos resultados obtidos pelas escolas com base na avaliação dos alunos e sumário de ações necessárias para o aprimoramento das que tiveram desempenho mais fracos¿.

Quanto ao método de avaliação da atuação do professor, a porcentagem dos que apóiam sobe para 56% quando se trata apenas dos docentes das escolas privadas. A concordância no caso dos professores da rede pública é menor, ficando em torno de 42%. Cerca de um terço, nas duas situações, se demonstra indiferente. Menos de um quinto é contra.

Na análise do diretor-geral do Grupo SM no Brasil, Igor Mauro, essa abertura está relacionada ao fato de os professores não se sentirem ouvidos, menos ainda valorizados. ¿Ainda há dificuldade em entender o cotidiano do professor e ele precisa ser ouvido. Ele busca sentido no que faz, tem preocupação que a escola faça sentido¿, afirma, analisando o fato de a maioria não considerar o ensino atual coerente com as necessidades futuras dos alunos. Ele faz uma ressalva em relação ao tipo de avaliação considerado pelos professores. ¿As avaliações hoje são de resultado de aprendizagem dos alunos. Talvez os professores estejam querendo dizer que querem um instrumento de avaliação focado na prática deles.¿

A posição é semelhante a defendida por Maria Isabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). ¿Somos contra avaliação punitiva, como a que a Secretaria da Educação está implementando aqui. Essa avaliação, que servirá para dizer que o professor é incompetente, não queremos.¿