Título: Cúpula da PF em Volta Redonda é presa
Autor: Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2008, Nacional, p. A11

Suspeita é de envolvimento em uma ¿máfia dos combustíveis¿

Felipe Werneck e Marcelo Auler, RIO

Acusada de envolvimento com uma ¿máfia dos combustíveis¿, a cúpula da Delegacia da Polícia Federal em Volta Redonda, no sul fluminense, foi presa ontem durante a Operação Resplendor, realizada pela Superintendência Regional da PF no Rio. Foram detidos, sob acusação de formação de quadrilha armada e corrupção, o delegado-titular, César Augusto Gomes Gaspar, o delegado-substituto, Gustavo Stteel, o chefe do Núcleo Operacional local, Sérgio Vinícius de Oliveira, e três agentes da delegacia. Outro agente estava foragido até o fim da tarde.

A Procuradoria da República denunciou e pediu a prisão de 58 pessoas e a 4ª Vara Federal de Volta Redonda expediu 40 mandados de prisão preventiva: os 7 federais, mais 5 policiais civis e 8 policiais militares do Rio, 1 PM de São Paulo, 18 empresários e 1 despachante. Até o fim da tarde, além dos 6 federais, estavam presos 2 policiais civis, o PM de São Paulo, 12 empresários (3 de São Paulo) e o despachante.

De acordo com o Ministério Público Federal, o esquema criminoso incluía o acobertamento policial a atividades comerciais ilícitas, especialmente a compra, distribuição e revenda clandestina de combustíveis, muitas vezes adulterados e com fraudes fiscais. O superintendente da PF no Rio, Valdinho Caetano, afirmou que o grupo de policiais recebia uma ¿caixinha¿ mensal de cerca de R$ 90 mil dos empresários para não fiscalizá-los. Na casa de um dos agentes federais foram apreendidos R$ 20 mil.

NOTAS FRIAS

As investigações foram iniciadas há seis meses. Os empresários são acusados, entre outros crimes, de corrupção ativa, falsificação de documentos, adulteração e transporte clandestino de combustíveis. De acordo com a PF, o combustível era levado de São Paulo para o sul fluminense. ¿Eles usavam notas frias e alguns caminhões passavam sem nota nenhuma¿, disse o superintendente. ¿Inicialmente, os policiais faziam falsas blitze para extorquir dinheiro. Num segundo momento, estabeleceu-se uma caixinha mensal e o trânsito dos caminhões sem recolhimento dos tributos ficou livre.¿

O delegado Oliveira, chefe do Núcleo Operacional da PF em Volta Redonda, era conhecido como ¿síndico¿, segundo Caetano: ¿Era o responsável por arrecadar o dinheiro e distribuir entre os policiais¿. Ainda segundo ele, policiais militares faziam a escolta de caminhões com combustível, que muitas vezes era adulterado em galpões em Volta Redonda. Um dos empresários presos em Cabo Frio já tinha sido detido em outras operações de combate à máfia dos combustíveis.

Segundo o superintendente, a investigação começou após um acompanhamento do trabalho nas delegacias da PF no Estado, no qual se detectou que em Volta Redonda a ¿produtividade era muito baixa¿. De acordo com a PF, o esquema funcionava havia mais de um ano. Ainda não foi calculado o valor dos impostos que teriam sido sonegados. Advogados dos acusados não haviam chegado até o início da tarde à superintendência da PF no Rio e não foram localizados pela reportagem.

Com a prisão da cúpula da delegacia de Volta Redonda, o superintendente do Rio convidou o delegado Marcos Antônio Lino Ribeiro, que chefiava os federais no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para substituir Gaspar.