Título: 2,1 mi de jovens que vão à escola não sabem escrever
Autor: Tosta, Wilson; Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2008, VIDA &, p. A26
"Iletrados escolarizados" representam 87,2% dos analfabetos entre 7 e 14 anos de idade
Wilson Tosta e Felipe Werneck
A Síntese de Indicadores Sociais 2007 aponta que 2,1 milhões de crianças brasileiras de 7 a 14 anos, embora matriculadas na escola, são analfabetas. O dado, que espantou pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coloca 7,4% dos jovens dessa faixa etária na condição de ¿iletrados escolarizados¿, representando 87,2% do total de 2,4 milhões de crianças desse grupo de idade (8,4% do total) que não sabem ler nem escrever.
A pesquisa mostra ainda que a proporção de analfabetos na escola sobre o total dos analfabetos cai, na medida em que a idade aumenta: 90,8% dos estudantes estavam com 7 anos; 92,4% com 8; 89,6% com 9; 85,6% com 10; 81,3% com 11; 71,4% com 12; 57,9% com 13; e 45,8% com 14. No total, 5,2% das crianças chegavam aos 10 anos sem saber ler nem escrever.
¿As injustiças sociais se projetam na escola¿, explicou ao Estado Iolanda de Oliveira, doutora em psicologia escolar pela USP. ¿A escola tem responsabilidade, sim, mas a estrutura da sociedade tem influência.¿
O quadro, segundo Iolanda, é formado por professores sobrecarregados, com condições ruins de trabalho, e alunos de famílias pobres, com pais iletrados que, muitas vezes, deixam sozinhas as crianças, que faltam às aulas ou precisam trabalhar.
O IBGE afirma que a maior proporção de analfabetos de 7 a 14 anos se concentrava, em 2007, no Nordeste (15,3%), seguida pelo Norte (12,1%), Centro-Oeste (5,3%) e Sul (3,6%).
AVANÇO
O Brasil, porém, avançou na meta da universalização da educação primária. A taxa de analfabetismo da população de 15 a 24 anos recuou de 12%, em 1997, para 5,3%, em 2007. Mas as regiões Norte (6%) e Nordeste (6,5%) ainda tinham quase o dobro das demais regiões. Houve ainda redução de 60% no analfabetismo entre 15 e 17 anos.
Em 2007, 2,6 milhões de pessoas declararam freqüentar cursos de alfabetização e de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Pouco menos da metade (45,9%) estava no correspondente ao Ensino Fundamental, e 20,7% em curso de alfabetização. ¿Estão correndo atrás de uma escolarização perdida¿, resumiu Ana Sabóia, gerente de Indicadores Sociais do IBGE.
O IBGE também constatou que 27,5% dos estudantes de 7 a 14 anos estavam atrasados em relação à série recomendada, mas essa defasagem caiu. Em 1997 era 43% e, em 2007, 32,3%. Mas a distribuição dos avanços pelo País foi desigual. No ano passado, Sul e Sudeste tiveram os menores patamares, 16% e 16,3%. No Nordeste esse indicador chegou a 38,8%, e no Norte, 35,4%. No Centro Oeste, foi 24,4%.
A taxa de freqüência líquida a estabelecimento de ensino da população de 15 a 17 anos - que mede a proporção de estudantes na série correta para a idade - foi 48,3%. Dez anos antes, porém, a situação era muito pior: 26,6%.
O IBGE constatou que a média de anos de estudo da população de 10 a 17 anos de idade aumentou entre 1997 e 2007 para todas as faixas etárias, mas ainda não chegou aos quatro anos de estudo completos para as crianças de 11 anos de idade. A escolaridade média da população com 15 anos ou mais era de 7,3 anos de estudo, 1,5 ano de avanço sobre 1997, quando era 5,8 anos.
O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, afirmou que o acesso à educação básica está universalizado no País, mas disse que ainda há muitos estudantes atrasados em relação à série que deveriam estar cursando.