Título: Putin quer pacto nuclear com Chávez
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2008, Internacional, p. A15

Durante visita do líder venezuelano à Rússia, premiê diz que relação com América Latina é prioridade para Moscou

AP, AFP, Efe e Reuters, Moscou

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, disse ontem que a Rússia está disposta a compartilhar com a Venezuela o desenvolvimento de energia nuclear e afirmou que as relações com a América Latina são uma prioridade para a diplomacia de seu governo. As declarações do premiê foram feitas durante reunião com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em Novo-Ogariovo, nas proximidades de Moscou. ¿Estamos dispostos a estudar a utilização conjunta da energia nuclear com fins pacíficos¿, afirmou Putin, que também garantiu outras parcerias com Caracas.

Horas antes da chegada de Chávez à Rússia, o Kremlin anunciou que daria um crédito de US$ 1 bilhão à Venezuela para estimular a cooperação militar entre os dois países. Caracas é o principal cliente da indústria bélica russa na América Latina e, desde 2005, assinou com Moscou 12 contratos de compras de armas estimados em US$ 4,4 bilhões.

Nos últimos anos, a Venezuela comprou 24 caças-bombardeiros Sukhoi-30 MK2, 50 helicópteros de vários tipos e 100 mil fuzis Kalashnikov AK-103. O governo de Chávez também já comprou da Rússia aviões de combate e veículos blindados. Caracas ainda planeja adquirir sistemas antiaéreos, afirmou o diretor da estatal russa de tecnologia, Seguei Shemezov.

A visita de Chávez à Rússia ocorre uma semana após bombardeiros táticos russos realizarem ¿vôos de treinamento¿ na Venezuela, sobre o Mar do Caribe. ¿Eu não posso deixar de agradecer a recepção calorosa que nossas equipes receberam na Venezuela¿, disse Putin. Uma frota de navios de guerra russos também está a caminho do Caribe para exercícios conjuntos com os venezuelanos. O envio das embarcações seria uma resposta de Moscou à presença de navios americanos e da Organização do Tratado de Atlântico Norte (Otan) no Mar Negro após o conflito entre Rússia e Geórgia, em agosto.

¿A Rússia está conosco, somos aliados estratégicos¿, afirmou Chávez. ¿E isso é um alerta para o império de que a Venezuela não é mais aquela nação pobre, solitária, explorada e humilhada.¿ O presidente venezuelano tem expressado nos últimos meses seu desejo de reforçar uma ¿aliança estratégica¿ com a Rússia em todos os planos para resistir à ¿pressão¿ dos EUA em seu país e na região.

PARCERIA ENERGÉTICA

O primeiro-ministro russo afirmou ontem que a estatal petrolífera Gazprom está preparada para começar a explorar gás e petróleo na costa venezuelana no fim de outubro. ¿Estou muito feliz de informar que está planejado o lançamento da primeira plataforma da Gazprom para exploração no Golfo da Venezuela¿, disse Putin.

¿Será o maior consórcio petrolífero do planeta¿, afirmou Chávez. O presidente venezuelano também deve negociar com o governo russo a criação de um banco conjunto. ¿Os neoliberais quiseram se apoderar dos avanços deixados pela União Soviética, mas felizmente chegou a `era Putin¿¿, afirmou Chávez.

¿Essa não é aquela Rússia que se arrastou e se ajoelhou, que não podia se levantar.¿ Chávez ficará dois dias na Rússia antes de seguir viagem para França, onde deve se reunir com o presidente Nicolas Sarkozy. Depois, Chávez viajará para Portugal.

Hoje, o líder venezuelano deve se encontrar com o presidente russo, Dmitri Medvedev, para observar exercícios militares na região de Orenburg, na fronteira russa com o Casaquistão.