Título: Pesquisador cobra clareza no projeto
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2008, Vida, p. A23
`Essa rede é uma falácia¿, acusa João Coimbra, presidente da SBP
Eduardo Kattah, BELO HORIZONTE
O que mais intriga representantes da comunidade paleontológica nacional é a falta de clareza em relação à contribuição científica da Rede Nacional de Pesquisas Científicas em Paleontologia. Tal missão, a princípio, foi delegada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), que, no entanto, não possui paleontólogo profissional nem curso de paleontologia.
¿A situação, eu diria, é quase surreal¿, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), João Coimbra. ¿Essa rede é uma falácia, é uma brincadeira de mau gosto. Eu me perguntaria: `Para que uma rede nacional de paleontologia?¿¿
Na época do lançamento da instituição, em 2004, a SBP, em seu informativo, classificou como ¿preocupante¿ e um ¿absurdo¿ o fato de uma secretaria estadual coordenar a pesquisa em paleontologia no País. A entidade também enviou carta ao então ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, na qual apontou uma ¿série de aspectos pouco claros na estruturação da rede¿, e pediu que as características do projeto fossem revistas.
A SBP, segundo Coimbra, possui quase 500 sócios, entre profissionais, mestres e doutores. A maior parte dos profissionais - cerca de 50% - está concentrada no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
¿Temos de vencer algumas resistências. Essa área científica é muito problemática¿, diz Sílvio dos Santos Vasconcelos, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais.
Ex-coordenador da rede, o presidente da ONG Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis, Beethoven Teixeira, admite que a exclusão dos pesquisadores representou uma ¿falha muito grande¿ no início do projeto. ¿Agora vamos para a fase mais complicada, fazer funcionar todo esse dinheiro que foi gasto e prestar contas à sociedade.¿
PROPOSTAS
O projeto cita como finalidade da nova instituição o ¿incremento da interação e cooperação¿ entre as equipes de profissionais, ¿promovendo o debate e entrelace de informações, bem como a difusão do conhecimento científico desta matéria¿.
De forma genérica, afirma ainda que ¿se propõe a criar um Plano Diretor para a área e estabelecer planejamento estratégico para apoiar, auferir e propiciar a captação dos recursos para as pesquisas¿. E propõe ações nas áreas de proteção do patrimônio paleontológico, preservação ambiental, promoção turística, escavações e exploração científica.
A UFTM disse que a participação da universidade na gestão da rede poderá favorecer a abertura de um curso de graduação na área. O Ministério da Ciência e Tecnologia não respondeu aos pedidos de informação.