Título: PSDB nega, mas negociação com DEM para 2º turno prossegue
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2008, Nacional, p. A4
Informação provocou mal-estar na campanha de Alckmin por passar idéia de que tucanos teriam "jogado a toalha"
Ana Paula Scinocca e Marcelo de Moraes
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), confirmou que desde o início da campanha conversa abertamente com dirigentes do PSDB sobre a formação de aliança no segundo turno para tentar impedir a vitória da petista Marta Suplicy em São Paulo. Ontem, o Estado revelou que dirigentes tucanos, como o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já discutem a articulação que reúna os dois partidos na segunda etapa da disputa. Essas conversas, feitas com líderes do DEM, como o ex-senador Jorge Bornhausen e o próprio Maia, incluem a possibilidade de acordo em torno do prefeito Gilberto Kassab (DEM), diante de sua vantagem sobre o tucano Geraldo Alckmin, indicada pelas pesquisas de intenção de voto.
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A informação provocou mal-estar na campanha de Alckmin por passar a idéia de que dirigentes nacionais teriam ¿jogado a toalha¿, duvidando de sua vitória. Por conta disso, os tucanos aliados de Alckmin passaram o dia tentando negar a articulação, planejada para ser anunciada logo depois do primeiro turno.
Sérgio Guerra chegou a divulgar nota oficial ontem para dizer que essa negociação não estava sendo feita. ¿Não há e não houve conversa com o ex-senador Jorge Bornhausen com vistas às eleições de São Paulo. O PSDB só trabalha com uma hipótese: o candidato do partido, Geraldo Alckmin, estará no segundo turno.¿
Ao Estado, o presidente nacional do PSDB reafirmou o que escrevera na nota e confirmou que tem conversado sistematicamente com Rodrigo Maia, mas ¿nunca sobre segundo turno¿.
¿Na semana passada mesmo, conversamos e ele até reclamou da troca de farpas entre Alckmin e Kassab. Mas nunca falamos de segundo turno¿, disse. ¿Nacionalmente, o partido está fora da eleição de São Paulo.¿
E tem estado mesmo fora. Alckmin tem feito a campanha com o PSDB dividido entre ele e Kassab. Freqüentemente, o tucano tem se queixado a amigos do ¿abandono¿ e se diz amparado apenas pela mulher, Lu Alckmin, e pela filha Sophia.
ADVERSÁRIO COMUM
Para os dirigentes do DEM, a discussão sobre o acordo no segundo turno é ¿natural¿, já que os dois partidos são aliados nacionais e regionais, enquanto a candidatura petista representa o governo federal, adversário comum para as duas legendas. Maia lembra que uma eventual vitória de Marta sobre Kassab ou Alckmin seria muito ruim para os dois partidos, que perderiam o controle da maior cidade do País.
¿Acho que Kassab estará no segundo turno e não tenho dúvida de que receberá o apoio de todo o PSDB. Até porque não conheço um político do DEM ou do PSDB que prefira apoiar Marta em vez de ficar do lado do Kassab ou do Alckmin¿, disse Maia. ¿Seria um tiro no pé não acontecer esse apoio. É claro que aquele que for para o segundo turno terá a ajuda dos dois partidos. É uma coisa lógica. DEM e PSDB sabem que a vitória de Marta representa um problema para ambos.¿
Sobre as conversas com os tucanos, o presidente do DEM disse que nunca deixou de falar com regularidade com Sérgio Guerra. ¿Claro que conversamos sempre. E é claro que vai haver uma convergência dos dois partidos no segundo turno.¿
O prefeito do Rio, César Maia, pai de Rodrigo Maia, concorda que os dois partidos estarão juntos no palanque do segundo turno. E avalia que os eleitores dos dois candidatos também se reunirão em torno daquele que ficar incumbido de enfrentar Marta. Acha até que isso independe de Alckmin decidir apoiar ou não Kassab no segundo turno.
¿Nenhum de nós conduz nossos eleitores como desejaríamos. Quem confronta o PT e influencia seu eleitor não tem como impedir que o eleitor coerentemente vá contra o PT¿, afirmou César Maia.
Para o prefeito do Rio, a votação em São Paulo representa uma ¿eleição binária¿, com dois lados claramente definidos. ¿O eleitor, numa eleição binária, não vota a favor de seu antípoda. Portanto, no segundo turno, essa será a tendência: eleitores do Kassab, mais eleitores do Alckmin com Kassab¿, apostou.
Até petistas ficaram surpresos com o movimento tucano na reta final da campanha. Em seu blog, Luiz Favre, marido de Marta Suplicy, comparou o gesto a uma ¿punhalada¿. ¿Bem na contramão das afirmações do candidato tucano, os dirigentes nacionais do PSDB, com FHC na cabeça, afirmam em alto e bom som que o demo Kassab é tão tucano quanto. Isto, a seis dias do primeiro turno, enquanto as pesquisas indicam uma disputa acirrada entre Alckmin e Kassab, é uma verdadeira facada pelas costas em Geraldo Alckmin¿, escreveu Favre.