Título: CNBB defende punição de torturadores
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2008, Nacional, p. A17
Presidente da entidade também pede abertura de arquivos do regime militar
Christiane Samarco
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) quer a abertura dos arquivos do regime militar e a punição dos torturadores que atuaram a serviço da ditadura. Foi o que defendeu ontem o presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha, com o alerta de que ¿perdão não é sinônimo de impunidade¿, e a defesa da tese de que ¿a abertura dos arquivos poderá elucidar e trazer a lume uma página dolorosa da história¿.
D. Geraldo recebeu ontem, na sede da Conferência em Brasília, a `caravana da anistia¿. Por iniciativa da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, a CNBB foi escolhida como sede de uma sessão especial de julgamento em que foram apreciados 13 requerimentos de anistia política nos quais se pede indenização para religiosos e militantes ligados à Igreja que sofreram perseguição e tortura durante o regime militar.
¿Temos que perdoar, porque sem perdão não há reconciliação e sem reconciliação não há paz. Mas impunidade, não¿, pregou dom Geraldo.
Segundo ele, ¿é preciso que os culpados sejam conhecidos e punidos, dentro do possível, do que é justo e legal¿. O bispo argumentou, assim, na mesma linha do ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi. O ministro lembrou que sua colega da Casa Civil, Dilma Rousseff, havia pedido às Forças Armadas o chamado ¿termo de destruição¿ dos documentos que os militares alegam ter queimado. Foi quando se queixou da ¿resposta cínica¿ dada à ministra, de que os termos teriam sido destruídos junto com os próprios arquivos.
NA JUSTIÇA
¿É da lógica dos criminosos queimar rastros e provas de seus crimes e houve muitos torturadores no aparelho de repressão que certamente procuraram queimar provas¿, disse o ministro, para concluir que caberá ao Judiciário se manifestar sobre a Lei da Anistia. Ele entende que Justiça terá de dizer se a lei anistiou torturadores ou se eles ainda terão de ser julgados e punidos.
O bispo fez questão de elogiar o trabalho da Comissão de Anistia, ¿que se empenha em restaurar a justiça e coloca a memória da verdade diante das novas gerações¿. Destacou que, naquele momento, os anistiados recebiam um ¿pedido de perdão¿ por parte do governo.
Observou, no entanto, que o processo é longo, exige desdobramento e que o pedido de perdão ¿não significa que tenha encerrado o capítulo da tortura¿.
¿Para que haja perdão verdadeiro é preciso que fatos venham à tona¿, pregou o presidente da CNBB. Ele se referiu, também, aos ¿bastidores cruéis da tortura¿, afirmando que esses fatos têm de ser recordados ¿para que não se apaguem da memória, se percebam responsabilidades e se chegue a uma clareza maior, inclusive com relação aos que foram torturados, mortos e desapareceram¿. Ao final, disse que é preciso ¿purificar¿ a memória histórica e que, para isto, deve-se ¿trazer à tona fatos que marcaram essa história¿.