Título: Perda de empresas com dólar derruba bolsa
Autor: Renée, Pereira; Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2008, Economia & Negócios, p. B1
As perdas cambiais da Sadia e da Aracruz no mercado de derivativos aumentaram o nervosismo dos investidores, já preocupados com a crise internacional. Ontem, além do suspense em torno da aprovação do pacote americano para salvar os bancos, a desconfiança de que outras companhias brasileiras também possam ter posições agressivas no mercado futuro de dólar provocou forte queda de algumas ações.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) ignorou a melhora de Wall Street e fechou em queda de 2,02%, nos 50.782 pontos, influenciado pelo desempenho negativo dos papéis das exportadoras. O dólar subiu 1,76%, para R$ 1,853, apesar de o Banco Central (BC) ter vendido US$ 500 milhões no mercado.
As ações da Sadia, cuja participação no Ibovespa é de 1%, caíram 35,48%. A empresa foi a primeira a anunciar, na quinta-feira, que perdeu R$ 760 milhões no mercado de câmbio. Para analistas, a transação pode ser caracterizada de especulativa, muito além de um tradicional contrato de hedge, que visa a proteger a empresa de oscilações muito fortes da moeda americana. ¿Mas esse não foi o primeiro caso da Sadia. Sua tesouraria é reconhecida no mercado como bastante ousada¿, afirmou um especialista que não quis se identificar.
Tanta agressividade não rendeu só prejuízo em caixa. A agência de risco Moody¿s rebaixou o rating (nota) da empresa e o manteve sob revisão para possível novo rebaixamento. Além disso, em um momento de encarecimento do crédito, a companhia teve de correr ao mercado para obter R$ 1,6 bilhão e compensar as perdas.
No caso da Aracruz, as ações recuaram 16,76% ontem. Embora tenha confirmado que foi ¿fortemente influenciada¿ pela recente valorização do dólar (que no início de agosto valia R$ 1,562), a companhia não informou o tamanho do prejuízo. Disse apenas ter excedido os limites previstos em sua política.
Temendo uma crise generalizada, os bancos passaram a olhar atentamente a exposição dos demais exportadores. Os diretores de Relações com Investidores da JBS Friboi, Perdigão, Marfrig, Minerva, Marcopolo e Embraer passaram o dia conversando com analistas, detalhando sua exposição em hedge cambial.
¿Conversamos com os outros produtores de alimentos e todos nos falaram que não fazem esse tipo de operação realizada pela Sadia e os resultados de terceiro trimestre deverão refletir uma exposição normal ao dólar¿, disse o Citi, em relatório enviado aos seus clientes.
A preocupação também movimentou a área de relações com investidores de Klabin, Suzano e VCP. As empresas ressaltaram que perdas semelhantes às da Aracruz não serão vistas em seus balanços. Mas o mercado não perdoou e as ações da maiorias dessas empresas recuaram fortemente no pregão de ontem.