Título: 63% dos eleitores não sabem em quem votar para vereador em SP
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2008, Nacional, p. A4

Pesquisa Ibope também mostra que 59% dos entrevistados não lembram em quem votaram na eleição de 2004

Carlos Marchi

A nove dias das eleições, 63% dos eleitores de São Paulo ainda não tinham decidido o seu voto para vereador - apenas 31% já haviam definido, revela pesquisa Ibope contratada pelo Estado e pela TV Globo. Outros 6% não responderam. A escolha de última hora, muito provavelmente, será o primeiro passo para esquecer, daqui a quatro anos, a escolha feita agora, repetindo o que aconteceu com o voto de 2004.

O gesto pode ser nobre e certamente é essencial ao compromisso do cidadão para com sua cidade, mas, mesmo assim, 59% dos eleitores de São Paulo não se lembram do candidato a vereador em quem votaram na eleição de 2004 - e mais 6% não quiseram ou não souberam responder à pergunta, seja por falta de memória ou por falta de compromisso político. Apenas 28% sabem dizer, quatro anos depois, o nome que sufragaram nas urnas de 2004, revela a mesma pesquisa.

O gesto dos eleitores é correspondido pelos vereadores eleitos. Quinta-feira o Estado informou que 91% dos projetos aprovados pela Câmara Municipal de São Paulo são irrelevantes, segundo estudo conduzido pela ONG Transparência Brasil e que abrangeu 3.021 projetos apresentados entre 2005 e 2008. Os projetos ditos irrelevantes abordavam questões como concessões de medalhas, títulos de cidadão paulistano, efemérides comemorativas e batismo de logradouros públicos. Dos 3.021 projetos, 646 davam nomes a ruas, praças e escolas.

Os 1.094 cidadãos que disputam o voto majoritariamente desmemoriado do paulistano sonham ser um dos 55 que alcançarão a eleição para ganhar uma remuneração mensal de R$ 9.288, mais R$ 71,5 mil para custear o emprego de 18 assessores - além de carro, motorista e verbas para gastos cotidianos. Cálculo da ONG Voto Consciente revela que cada projeto aprovado na atual legislatura custou R$ 1.811.733 (o cálculo foi obtido dividindo o gasto total, R$ 561,6 milhões, pelo número de projetos relevantes).

Mas alguns projetos importantes fazem parte dessa extensa lista, lembra o vereador José Police Neto (PSDB), o Netinho, líder da gestão Gilberto Kassab na Câmara. Ele cita a reforma previdenciária dos servidores municipais, a abolição da taxa de lixo, a abolição da taxa de luz nas áreas que não são iluminadas, a reforma no plano de carreiras da administração municipal e a lei da Cidade Limpa, além da consolidação das quase 15 mil leis municipais que existiam até então, muitas delas conflitantes entre si.

TODOS OS SEGMENTOS

Em todos os segmentos - seja nos grupamentos de gêneros, por idade, por escolaridade ou por faixas de renda - os que esqueceram o nome do vereador que sufragaram em 2004 são majoritários. O melhor resultado está entre os que concluíram o ensino superior, grupo em que 42% lembram o nome do vereador votado por eles há quatro anos, enquanto 48% não souberam mencionar esse nome. Os que fizeram o ensino médio já apresentam resultado muito pior: 26% se lembram do candidato em quem votaram e 56% esqueceram.

Os resultados vão piorando à medida que a pesquisa se aproxima da base da pirâmide. Entre os que cursaram, no máximo, entre a 5ª e 8ª séries do ensino fundamental, apenas 23% se recordam do candidato sufragado e 63% não sabem citar o seu nome. Na última faixa, os que estiveram na escola até a 4ª série do ensino fundamental, 73% já esqueceram o nome do vereador em que votaram em 2004; apenas 18% sabem dizer o nome do candidato escolhido.

RENDA

Nos segmentos distribuídos pelas faixas de renda a situação é semelhante. Entre os que ganham mais de 5 salários mínimos mensais, 41% se lembram do candidato escolhido em 2004 e 49% não sabem reproduzir o seu nome quatro anos depois. Entre os que ganham entre 2 e 5 salários, 59% já esqueceram o nome do vereador sufragado, enquanto 27% sabem mencioná-lo.

Mas entre os que ganham até 2 salários mínimos, só 18% sabem dizer o nome do candidato - 68% não sabem.

Já na escolha do candidato este ano não há grandes diferenças entre os segmentos. Todos - os que estudaram mais e os menos ilustrados, os mais ricos e os mais pobres, os mais jovens e os mais velhos - estão atrasados na definição do nome de seu candidato e provavelmente vão decidir no afogadilho, em cima da hora de digitar os números na urna eletrônica.

Só para comparar, entre os que têm nível superior, apenas 39% já definiram o voto; entre os que têm até a 4ª série do ensino básico, só 29% já sabem em quem votar. A diferença não é tão grande.