Título: Relatório do BC ainda mostra preocupação com a inflação
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2008, Economia, p. B13
Instituição percebe pressão de demanda e poderá voltar a elevar a Selic em outubro
Ribamar Oliveira
Mesmo considerando que a deterioração dos mercados internacionais é ¿bastante severa¿, o Banco Central (BC) não abandonou a ortodoxia. No relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, o BC insistiu no diagnóstico que o descompasso entre o ritmo da expansão da demanda e a oferta ainda é o maior risco para a trajetória dos preços no Brasil. O BC considera que as perspectivas de inflação continuam preocupantes e cercadas por razoável incerteza.
O quadro de incerteza sobre o comportamento dos preços, na avaliação do BC, pode ser identificado pelo fato de que a economia opera ¿virtualmente a pleno emprego dos fatores¿, as expectativas inflacionárias ainda estão em patamares ¿incompatíveis com a trajetória de metas¿ e existem pressões de preços industriais no mercado atacadista.
Embora admita que ¿a desaceleração econômica global possa ter impactos desinflacionários¿, o relatório não faz uma avaliação clara dos efeitos sobre a inflação brasileira de um desaquecimento provocado pela crise internacional.
A leitura do relatório leva à conclusão de que o BC deverá aumentar novamente a taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no final de outubro, para reduzir o descompasso entre a demanda e a oferta, mesmo com o cenário externo adverso.
Ao divulgar o relatório, o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse que a crise poderá levar a uma ¿acomodação¿ do crescimento do País, mas afirmou que é prematuro fazer projeções sobre o impacto da crise sobre os investimentos no Brasil.
Mesquita disse que não trabalha com um cenário de recessão mundial, embora ela possa acontecer em algumas regiões.
Ele admitiu que a deterioração do cenário internacional ¿introduz incertezas no cenário prospectivo¿ do BC. Mesmo assim, não quis avaliar se a previsão de inflação de 4,8% para 2009, que consta do cenário de referência do relatório do BC, estaria ¿ultrapassada¿ diante do agravamento da crise financeira. Para 2008, a previsão do BC, em seu cenário de referência, é que a inflação fique em 6,1%, mantida constante a atual taxa de juro de 13,75%.
¿Antes da próxima reunião do Copom, nós vamos rodar uma nova safra de projeções e avaliar os cenários, com todas as suas variáveis¿, disse.
¿Hoje em dia, um mês é muito tempo¿, observou Mesquita, numa referência ao fato que a próxima reunião do Copom só ocorrerá daqui a um mês.
Mesquita disse que a forte retração dos financiamentos externos, em conseqüência da crise, poderá ter efeitos contracionistas. A retração poderá afetar as exportações e reduzir a oferta interna de crédito, pois cerca de 8% das operações são feitas com base em empréstimos captados pelos bancos no mercado internacional.
O relatório trimestral de inflação do BC foi redigido com dados coletados até 12 de setembro, antes do agravamento da situação financeira dos EUA, o que pode explicar o relativamente pouco destaque dado à crise. A entrevista de Mesquita foi realizada antes da rejeição do pacote de ajuda de US$ 700 bilhões pela Câmara dos Deputados dos EUA.
O relatório trimestral do BC elevou a previsão de crescimento da economia brasileira este ano de 4,8% para 5%. A estimativa do mercado é de crescimento de 5,2%.
A previsão do BC para o crescimento da economia em 2009 só será divulgada no próximo relatório trimestral de inflação, que sairá em dezembro.