Título: Marta quer nacionalizar disputa, mas DEM diz que não teme Lula
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2008, Nacional, p. A4

Idéia é aproveitar popularidade do presidente para ligar programas federais com os da gestão petista na cidade

Vera Rosa, Marcelo de Moraes e Clarissa Oliveira

Diante da forte perspectiva de enfrentar o prefeito Gilberto Kassab (DEM) no segundo turno da eleição em São Paulo, o comitê de Marta Suplicy (PT) vai mudar de estratégia e nacionalizar a campanha na próxima rodada da disputa. A idéia é aproveitar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer a ligação entre os programas do governo federal, os projetos adotados na gestão Marta (2001-2004) e a ¿descaracterização¿ dessas iniciativas na administração Kassab.

Se o quadro atual se mantiver e Kassab for o adversário de Marta no segundo turno, como indicam as últimas pesquisas, a propaganda eleitoral do PT vai mostrar que o Bolsa-Família - vitrine do governo Lula - tem problemas na capital comandada pelo DEM. Não é só: na tentativa de dar um caráter plebiscitário à disputa e tirar dividendos do racha na seara tucana, a equipe de Marta quer mostrar como São Paulo evoluiu antes e depois do governo Lula.

Os responsáveis pelo programa de TV da candidata avaliam que será preciso imprimir tom mais ofensivo à campanha. Petistas alegam que é importante exibir no horário eleitoral a ¿caótica situação financeira da cidade¿ quando Marta assumiu a prefeitura, em 2001, na época em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era presidente. ¿A dívida passou a consumir 13% da receita líquida e impedia novos financiamentos¿, diz Marta. A intenção do PT é insistir em que o dinheiro hoje em caixa na prefeitura não é fruto de boa gestão, mas do crescimento do Brasil na era Lula.

O presidente apareceu ontem no último programa de Marta, antes da votação de domingo, e pediu votos para a petista (leia reportagem na página 7). Na propaganda de rádio e na TV, Lula disse que a ex-prefeita está ¿mais madura e preparada¿ e antecipou a linha que será adotada no segundo turno ao destacar que ele e Marta têm ¿idéias e projetos muito parecidos¿.

SOCORRO

Nos bastidores da campanha de Marta, o diagnóstico é de que a briga, de agora em diante, será ¿dificílima¿ para o PT. A equipe da candidata sempre preferiu o confronto com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) por avaliar que o tucano já entrou na briga fragilizado e foi se desidratando ainda mais ao longo da corrida. Dirigentes do PT temem, ainda, que Kassab use a máquina da prefeitura e do governo do Estado - prática proibida pela lei eleitoral.

A preocupação com Marta chegou até o Palácio do Planalto. Em reunião da coordenação política do governo, convocada para tratar do impacto da crise dos Estados Unidos, Lula anunciou que viajará mais para São Paulo a fim de ajudar a ex-prefeita. À tarde, a candidata do PT negou que a maior participação de Lula signifique um ¿socorro¿ diante do aprofundamento da disputa em São Paulo. ¿Não é socorro. Ele é meu parceiro¿, reagiu Marta.

O PT pretende lembrar na propaganda que o atual governador José Serra (PSDB) foi eleito prefeito, em 2004, e deixou o cargo para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Detalhe: se vencer a eleição, Marta também ganhará musculatura para disputar o governo ou a Presidência, em 2010, apesar das negativas oficiais.

A cúpula petista quer mostrar no segundo turno que programas sociais bem avaliados na gestão Marta - como os Centros Educacionais Unificados (CEUs), o Bilhete Único e o Renda Mínima - foram ¿alterados¿ por Kassab. ¿Nosso principal desafio é destacar as diferenças de projetos na gestão de Marta e no governo Serra-Kassab¿, afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). ¿Vamos comparar as nossas administrações e exibir os problemas vividos pela cidade¿, completou o deputado Carlos Zarattini (SP), coordenador da campanha de Marta.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), minimizou a estratégia do PT para nacionalizar a campanha no segundo turno. ¿Claro que a presença de Lula sempre produz algum impacto, mas não se trata de uma novidade que possa desequilibrar o jogo¿, comentou Maia. ¿No primeiro turno, Marta usou a imagem do presidente o tempo inteiro. Aliás, ela só aparece com tantos pontos na pesquisa por conta do prestígio do presidente.¿

DISSIDENTES

A última pesquisa CNI-Ibope, divulgada na segunda-feira, indicou que Lula tem 80% de aprovação. Além disso, 69% dos eleitores consideram seu governo ótimo ou bom.

No diagnóstico de Maia, se Kassab confirmar presença no segundo turno a grande novidade será a entrada oficial do PSDB na campanha do prefeito. De qualquer forma, o PT aposta no racha e vai procurar tucanos ligados ao governador Mário Covas, morto em 2001, na expectativa de obter adesões para Marta.

¿Não vamos falar desses apoios até domingo, mas não tenho dúvida de que haverá o apoio oficial do PSDB a Kassab¿, disse o presidente do DEM. Desde o início da campanha, expressivos setores do PSDB paulista defendem abertamente a reeleição do prefeito. Nos últimos dias, com a subida de Kassab e a queda de Alckmin nas pesquisas, dirigentes tucanos procuraram o DEM para traçar uma estratégia comum na segunda rodada da disputa.

O movimento irritou Alckmin. Rifado pela cúpula tucana, ele exigiu do senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, desmentido oficial sobre as negociações com o DEM. As articulações, porém, continuaram. De olho no apoio de parcela do tucanato que odeia Kassab, Marta saiu em defesa do adversário. ¿Estão fritando Alckmin¿, afirmou a candidata do PT. ¿Isso é uma falta de compostura.¿