Título: Não existia nenhuma lista em minha gestão
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2008, Vida &, p. A18

Entrevistas - Marina Silva: senadora e ex-ministra do Meio Ambiente; ex-ministra diz ao `Estado¿ que, ao contrário de Minc, não divulgaria documento sem saber seu conteúdo, só para ganhar manchete

João Domingos, Brasíilia

A senadora Marina Silva (PT-AC), antecessora do ministro Carlos Minc no Meio Ambiente, disse que não sabia de nenhuma lista dos cem maiores desmatadores em janeiro ou fevereiro, pois a força-tarefa que tinha por função verificar os processos das multas só foi criada após 11 de março. Ela afirmou que, ao contrário de Minc, não divulgaria nenhuma lista sem saber o conteúdo. Disse ainda estar preocupada com o aumento da derrubada da Amazônia.

O ministro Carlos Minc disse que a lista já existia em janeiro, durante sua gestão. Existia?

Claro que não. Somente em 11 de março foi criada força-tarefa para analisar os autos de infração e processo administrativos para que pudéssemos fazer a cobrança. Tudo passava por critério muito rígido. Se quisesse uma manchete fácil, poderia ter divulgado qualquer lista, sem nenhum critério. Eu não quis. Como não dei informações sobre a Operação Curupira, que levou tantos funcionários do Meio Ambiente para a cadeia. Se quisesse, poderia ter conseguido mais uma manchete.

Minc disse que não sabia quem estava na lista, que confiou cegamente no Ibama. A senhora acha que o ministro errou?

Não posso dizer se ele errou ou não. Isso não me compete. Sei que, se eu estivesse lá, nenhuma lista teria sido divulgada sem que eu gerenciasse o processo.

A senhora acha que há alguma coisa por trás da divulgação da lista?

Não sei. Na semana passada, a lista foi anunciada como se fosse uma coisa nova. Agora, parece que deu algum problema e querem jogá-la para minha administração. Isso, não aceito.

Minc disse que obteve a informação de que a lista já existia dentro do Ibama.

Tenho certeza de que na equipe do ministério ninguém teria a coragem de dizer isso. Quero também crer que o ministro não quis dizer que eu tinha a intenção de ocultar a lista, porque aí seria faltar ao respeito comigo. Eu sempre trabalhei com a discrição exigida pelo processo republicano.

Como a senhora viu o crescimento do desmate em agosto?

Nunca estive tão apreensiva. Porque tivemos uma queda do desmatamento em três anos consecutivos. Agora, teve esse aumento de 134% em relação a julho e de 229% em relação a agosto do ano passado. Sei que o período é difícil, porque tem aumento do preço das commodities, a estiagem é longa e há eleições. É fundamental retomar o plano de combate ao desmatamento e não afrouxá-lo.

Agora há dinheiro, tem o Fundo da Amazônia, a contribuição da União Européia para a conservação da área da BR-163 (Cuiabá-Santarém). Não fica mais fácil combater o desmatamento?

Tudo isso que é anunciado como novidade já estava sendo preparado durante minha gestão. Tanto o Fundo Amazônia quanto o dinheiro da UE.