Título: Ministros foram grampeados, diz Mendes
Autor: Gallucci, Mariângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2008, Nacional, p. A15

Presidente do STF diz à PF que atingidos relatavam ações policiais

Mariângela Gallucci

No depoimento que prestou à Polícia Federal no início de setembro - sobre o grampo que sofreu durante conversa com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) -, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou que durante recentes operações policiais foram feitas escutas telefônicas e monitoramento de ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça responsáveis por relatar ações sobre esses inquéritos.

Uma dessas operações foi a Satiagraha, que apurou suspeitas de desvio de recursos públicos e crimes financeiros. Entre os presos na investigação estava o empresário Daniel Dantas, solto por ordem de Mendes.

Na mesma época, Mendes foi vítima de um grampo telefônico e o fato é investigado pela PF. Um telefonema entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi gravado. Surgiram suspeitas de participação de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a cúpula do órgão foi afastada.

¿Tanto no caso da Operação Navalha, quanto na Operação Satiagraha, revela-se o mesmo modus operandi. Por um lado, realizam-se escutas e monitoramento do relator dos habeas corpus, por outro, divulgam-se para a imprensa falsas notícias e informações, com o propósito de colocar o juiz em situação de descrédito e intimidação¿, afirmou Mendes no depoimento.

Ontem, Mendes enviou um ofício ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pedindo que sejam investigados os recentes vazamento e divulgação de informações que, segundo ele, são inverídicas, difamantes e injuriosas contra assessores de seu gabinete na presidência do STF.

Essas notícias ¿inverídicas¿ às quais Mendes se referiu seriam a respeito de um suposto jantar entre assessores do STF e advogados de Daniel Dantas em Brasília. Imagens desse jantar teriam sido gravadas.

Conforme reportagem publicada na revista IstoÉ, na conversa teria sido usada a expressão ¿um milhão de dólares¿.

Segundo Gilmar Mendes, o vazamento e a divulgação dessa história, que segundo ele é inverídica, teria o objetivo de intimidar e colocar em descrédito o STF. Mendes afirmou que a Abin, a Procuradoria-Geral da República e o delegado da PF Protógenes Queiroz, responsável pelas investigações da Satiagraha, já negaram a existência desses supostos fatos.

¿Com base nestes fatos, que conclui suficientes para pôr cabo a qualquer suspeita quanto à lisura da atuação de minha assessoria e quanto à existência de indevida investigação, dei por superada a questão¿, afirmou Mendes no ofício enviado ao procurador-geral.

Assim como Mendes, os principais assessores da presidência enviaram um pedido ao procurador-geral para que sejam apuradas as responsabilidades na divulgação das informações que, segundo eles, são difamantes, caluniosas e injuriosas.