Título: FAB renovará frota com F-18, Rafale ou Gripen
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2008, Nacional, p. A16

Aeronáutica diz que aeronave escolhida deve permitir o processo de transferência tecnológica, além de servir de base a projetos nacionais

Roberto Godoy

O Comando da Aeronáutica definiu ontem o rumo tecnológico da aviação de combate do País, ao menos até 2040. Ao selecionar três caças entre os quais será escolhido o novo jato supersônico padrão da Força Aérea, os técnicos indicaram que a aeronave terá de permitir desenvolvimento permanente, servir de base a projetos nacionais da indústria aeronáutica e permitir o processo de transferência tecnológica exigido pelo governo.

Mais que isso: precisará, necessariamente, apresentar recursos de furtividade - no desenho, nos materiais utilizados na construção ou por meio de sistemas de bordo, para reduzir sua detecção por sensores eletrônicos. Radares, por exemplo.

Os três modelos - o americano F-18 E/F, o francês Rafale e o sueco Gripen NG - ¿representam o estado da arte dessa engenharia de alta sofisticação, permitindo ao País absorver conhecimentos sensíveis¿, acredita o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A Comissão Gerencial dos Projetos F-X2 quer uma plataforma de múltiplo emprego para substituir, até 2025, as frotas atualmente em uso: 12 jatos Mirage 2000C/B, 57 F-5M e 53 caças bombardeiro AMX. O plano prevê a incorporação inicial de 36 aeronaves a um custo estimado de US$ 2,5 bilhões.

A meta, todavia, contempla de 120 a 150 aviões de combate, de ao menos três diferentes versões - superioridade aérea, ataque tático e bombardeio de precisão -, em operação ao longo dos próximos 35 anos. A desativação dos meios em uso no momento - e passando por procedimentos de modernização - será realizada durante oito anos, de 2015 a 2023.

A escolha dos três finalistas, anunciada ontem pela manhã, deixou de fora as propostas menos viáveis. O Eurofighter europeu saiu por conta de fatores como alto preço, acima de 80 milhões cada, e de um desconforto diplomático - a proposta pouco hábil do governo britânico de manter policiais próprios em aeroportos brasileiros, controlando passageiros com destino à Grã-Bretanha. O Su-35 russo esbarrou no projeto, impressionante, porém em rápida superação de conceitos, e pelo desinteresse dos fornecedores, aparentemente mais preocupados em atender à demanda de seu melhor cliente na região, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dono de uma conta na indústria de defesa local que se aproxima de US$ 5,5 bilhões. O F-16 americano, submetido ao Comando da Aeronáutica pela Lockheed-Martin, em substituição ao novíssimo F-35, foi superado pelo F-18 E/F Super Hornet, da Boeing.

Até março de 2009 a escolha definitiva será anunciada e, pela vontade do brigadeiro Juniti Saito, o contrato receberá as assinaturas no dia 7 de setembro. A entrega dos primeiros aviões está prevista para 2014.

Nos próximos meses, segundo nota do Comando da Aeronáutica, serão detalhados aspectos já considerados na pré-seleção: operação, logística, suporte técnico, compensações comerciais e transferência de tecnologia para a indústria nacional.

O lote de abertura, com 36 caças, eventualmente será entregue de acordo com peculiaridades da FAB. Nesse caso, parte do pacote, admitiu ontem a noite um brigadeiro da área técnica, poderia ter a integração final feita no Brasil, provavelmente nas instalações da Embraer no município de Gavião Peixoto, região de Araraquara.

O Projeto F-X2 será discutido na segunda quinzena de dezembro durante visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil. O chefe de Estado francês vai formalizar um amplo pacote de cooperação na área militar. Há uma dúvida, ainda pendente. Ninguém sabe de que maneira a Boeing Company vai tirar do governo americano a autorização para transferir a avançada tecnologia do F-18 E/F, ¿cláusula inarredável¿ da encomenda brasileira.