Título: Pesquisa com célula-tronco pode ter financiamento de R$ 30 mi
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2008, Vida, p. A22
Um dia após anúncio de obtenção de linhagem pela USP, governo divulga reforço de R$ 9 mi
Emilio Sant¿Anna e Herton Escobar
As pesquisas nacionais com células-tronco poderão ganhar um reforço de R$ 9 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com isso, o valor do financiamento para a formação de uma Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC) e a construção de seis centros de pesquisa poderá chegar a R$ 30 milhões.
O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, um dia depois da notícia de que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) produziram a primeira linhagem brasileira de células-tronco de embriões humanos.
A RNTC deve se concretizar ainda neste ano com a seleção de pesquisas apoiadas por dois editais públicos. Cerca de R$ 11 milhões serão reservados para pesquisas com células-tronco adultas e embrionárias. Ao BNDES caberá a participação na construção de três dos seis centros de pesquisa. ¿Estamos conversando com o BNDES para que ele examine a possibilidade de participar da construção desses centros¿, disse Guimarães.
Cientistas e pacientes que batalharam pela legalização das pesquisas com células-tronco embrionárias comemoraram o feito na USP. A Lei de Biossegurança - aprovada no Congresso em 2005 e confirmada em maio pelo Supremo Tribunal Federal - autorizou os cientistas a extraírem células-tronco de embriões humanos, desde que estejam congelados há mais de três anos em clínicas de fertilização.
Foi o que a equipe da geneticista Lygia Pereira fez pela primeira vez no País, em parceria com duas clínicas paulistas de reprodução humana. ¿Valeu a pena brigar pela aprovação das pesquisas¿, disse ao Estado Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, que foi a principal representante da comunidade científica na campanha pela Lei de Biossegurança. ¿Conseguir as linhagens é o primeiro passo.¿
¿O Brasil mostrou que tem cientistas de primeira linha e que vale a pena investir nessas pesquisas aqui¿, disse a vereadora Mara Gabrilli (PSDB), que é tetraplégica e apoiou as pesquisas na USP. Ela diz ter ¿confiança total¿ de que as células-tronco um dia levarão a novos tratamentos para pessoas como ela, vítimas de lesões medulares. ¿Acho que muita gente vai começar a rever suas posições filosóficas depois desse resultado.¿
¿É importantíssimo¿, disse ao Estado, por e-mail, a advogada Leide Moreira, de 60 anos, que sofre de esclerose lateral amiotrófica. Desde 2005, ela movimenta apenas os olhos, que usa para se comunicar por meio de sinais e uma tabela alfabética. As respostas à reportagem foram digitadas por uma ajudante.
Perguntada se aceitaria participar de tratamentos experimentais com células-tronco embrionárias, respondeu: ¿Sim, é tudo o que eu quero.¿ E quanto aos questionamentos éticos sobre o uso de embriões humanos? ¿A Igreja deveria se preocupar com outras coisas.¿
CRÍTICAS
D. Antônio Augusto Dias Duarte, médico e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, não vê motivos para comemorar. ¿Não se trata apenas de pesquisa, mas sim de seres humanos, que precisam ter seu direito à vida respeitado¿, disse. Críticos consideram que os embriões são equivalentes a pessoas, e por isso não poderiam ser destruídos para a obtenção das células.
A presidente do Movimento Nacional Brasil Sem Aborto, Lenise Aparecida Martins Garcia, tem uma preocupação maior: ¿EUA e Europa protegem seus pacientes e proíbem pesquisas que não são seguras. Meu receio é que essas pesquisas sejam feitas agora no Brasil.¿