Título: Chávez agora estimula criação de moedas locais
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2008, Internacional, p. A10
Meta é incentivar escambo, mas pode aumentar inflação
Renata Miranda
Empenhado em desenvolver um modelo econômico de ¿produção socialista¿ na Venezuela, o presidente Hugo Chávez está estimulando a criação de ¿moedas comunais¿ para facilitar as operações de escambo, legalizadas por ele há dois meses. Analistas, porém, acreditam que a medida pode degradar ainda mais a já combalida economia venezuelana, cujo índice inflacionário de 18,7% ao ano é um dos maiores da América Latina.
A Lei para o Fomento e o Desenvolvimento da Economia Popular foi aprovada por Chávez em 31 de julho, e ela autoriza as comunidades organizadas em ¿grupos de intercâmbio solidário¿ a criar seu próprio símbolo monetário, escolher um nome e estabelecer seu valor por equivalência ao bolívar forte, moeda nacional em vigor desde janeiro. No entanto, essas moedas só poderão ser utilizadas nas regiões em que foram criadas, perdendo o valor no âmbito nacional, já que algumas das regiões venezuelanas têm suas próprias moedas desde o ano passado.
¿A criação das moedas é uma das loucuras do governo, que tenta encobrir o problema da inflação¿, disse, por telefone, o economista venezuelano José Toro Hardy, ex-diretor da estatal petrolífera PDVSA.
Chávez exemplificou o processo de troca: ¿Se sou produtor de bananas, me incorporo como produtor e consumidor, assim, troco minhas bananas por 10 zambos (moeda local) e esses 10 zambos são equivalentes a alguns tomates e um frango.¿ Para Chávez, o sistema incorpora o cidadão ao ¿mercado socialista¿, que realiza trocas igualitárias sem a ¿exploração¿ do sistema capitalista.
¿A probabilidade de essas moedas funcionarem é pequena porque elas apenas fazem parte da utopia socialista de Chávez¿, afirmou Roberto Bottome, diretor do semanário Veneconomia.
A iniciativa não é nova. Durante quase três anos (de 2001 a 2003), a Argentina teve 14 moedas paralalelas, além do peso - a moeda nacional. Emitidas pelos governos provinciais, eram usadas como se fossem dinheiro normal. Elas foram a alternativa encontrada pelas províncias para driblar a maior crise econômica e social da história do país. A idéia acabou abandonada por ter desorganizado ainda mais a economia argentina.
O economista Ronald Balza, da Universidade Católica Andrés Bello, explica que as moedas locais dificultam a mobilidade da população, deixando-a presa à sua comunidade. ¿Essas moedas recordaam as fichas com as quais os fazendeiros pagavam seus peões no século 19, quando esse `dinheiro¿ era válido apenas nos mercados do latifúndio¿, disse Balza.