Título: Escola se prepara para novas regras
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2008, Vida, p. A16

Em SP, debates e oficinas tratam da alteração na ortografia, que começa a valer em 2009; livros mudam em 2010

Simone Iwasso

Assinado na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o acordo ortográfico da língua portuguesa, que entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2009, é trabalhado de maneira diversa por colégios de São Paulo. Alguns anteciparam as novidades e deram início a oficinas e debates com os alunos. Outros optaram por iniciar as conversas apenas no ano que vem, introduzindo aos poucos as mudanças, até porque haverá um período de transição de quatro anos. Até dezembro de 2012, as duas ortografias, a atual e a nova, serão aceitas.

¿É um momento de transição, mas devemos ter noção de que o impacto será maior para a nossa geração do que para a dos estudantes atuais, porque eles têm uma capacidade maior de entender que o conhecimento está em constante transformação¿, analisa Débora Vaz, diretora pedagógica da Escola Castanheiras.

De acordo com Elenice Lobo, diretora pedagógica do Colégio Santo Américo, a transição será feita adotando a nova ortografia como padrão, sem punir o uso da ortografia antiga em um primeiro momento. ¿Em se tratando de avaliações, a orientação será indicar sempre a nova forma, sem descontar pontos dos alunos¿, diz. No Santa Maria, os estudantes receberão neste ano material oficial que apresenta na íntegra as modificações para que possam familiarizar-se com elas e gradativamente incorporá-las.

¿As correções de produções textuais ainda não levam rigidamente em conta as mudanças, que são apenas assinaladas, o que será feito no próximo ano, após estudo detalhado e conseqüente incorporação das novas regras¿, explica Darci Garcia, professora de Português do ensino médio do Colégio Santa Maria.

Segundo especialistas, a adaptação às novas regras não deverá ser um grande problema nas escolas, apesar de tender a ser mais difícil para estudantes em séries avançadas, que já absorveram as regras gramaticais. ¿A idade ideal para travar contato com uma nova língua é aquela dos alunos de educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental. A mudança traz poucos aspectos relevantes para o processo de `letramento¿ inicial, portanto não nos preocupa o trabalho pedagógico nesta faixa etária¿, diz Lilio A. Paoliello Júnior, diretor de conteúdo do Pueri Domus Escolas Associadas, que integra 165 unidades no País.

Na maior parte das escolas apenas em 2010 todos os livros seguirão a nova ortografia - a partir desta data, será obrigatória a incorporação das regras nos livros. ¿A adaptação às novas regras ortográficas apresenta dois problemas básicos para o mercado editorial. O primeiro deles é a administração de estoque das editoras, que deverão adequar os livros produzidos às modificações determinadas. Como isso será feito, fica a critério de cada editora¿, afirma Jorge Yunes, presidente da Abrelivros.

¿O outro problema remete às dúvidas referentes à aplicação do acordo. As divergências de interpretação só serão resolvidas quando o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa for publicado. Ou seja: há a possibilidade de os livros passarem por nova revisão¿, afirma Yunes.

ORIGEM

O acordo foi aprovado em 1990 pelos oito integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas demorou até este ano para ser assinado por Brasil e Portugal. Criticado por uns pela falta de relevância, o principal argumento a favor da mudança é o de que o português é a única língua ocidental de alguma importância no mundo a ter duas ortografias oficiais, a portuguesa e a brasileira, sem contar as versões de outros países. Inglês, espanhol, francês, alemão têm hoje uma grafia apenas.