Título: Fed triplica crédito para empréstimos de bancos
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2008, Economia, p. B10

Volume passou de US$ 300 bilhões para US$ 900 bilhões, enquanto pacote de ajuda aprovado pelo Congresso não começa a produzir efeito

Patrícia Campos Mello

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou ontem de US$ 300 bilhões para US$ 900 bilhões o volume de empréstimos que se dispõe a fazer para bancos. Enquanto o pacote de resgate do sistema financeiro não sai do papel e a situação na Europa e nos Estados Unidos se deteriora, o Fed está buscando alternativas para descongelar pelo menos parte do mercado de crédito.

Os bancos continuam relutando em emprestar dinheiro e a taxa Libor de empréstimos interbancários voltou a bater recorde. ¿O Federal Reserve está pronto para adotar medidas adicionais para dar liquidez ao mercado¿, disse a instituição, em um comunicado.

Funcionários do Fed e da Secretaria do Tesouro estão trabalhando com executivos de bancos para formular novas medidas de estímulo ao crédito. Uma delas é algum tipo de programa para comprar os títulos de curto prazo que empresas e bancos usam para financiar suas operações (commercial paper), mercado que está paralisado. O mercado americano de commercial paper encolheu US$ 94,9 bilhões na semana terminada em 1º de outubro e agora é de US$ 1,61 trilhão.

O Fed anunciou também que vai começar a pagar juros sobre as reservas que os bancos mantêm no banco central. Essa medida vai permitir ao Fed injetar recursos nos bancos sem interferir na taxa básica de juros, que hoje está em 2%.

Na sexta-feira, o Congresso aprovou e o presidente George W. Bush assinou a lei que permite ao Tesouro americano usar até US$ 700 bilhões para comprar dos bancos títulos podres - lastreados em hipotecas inadimplentes, pouco líquidos e difíceis de avaliar - na tentativa de descongelar o mercado de crédito.

Só que o levantamento de preços e as compras dos títulos não devem começar antes do dia 15 de novembro. Enquanto isso, o Fed busca maneiras de garantir oxigênio aos bancos, como a ampliação das linhas de crédito para as instituições.

O presidente George W. Bush voltou a falar sobre a crise ontem e tentou reduzir as expectativas em relação à rapidez dos efeitos do pacote. ¿Vai levar um tempo para se restabelecer a confiança no sistema financeiro¿, disse Bush. ¿Nós não queremos nos apressar e atrapalhar a eficiência do programa.¿

A crise está atingindo também indústrias, que tiveram as linhas de crédito suspensas e não conseguem emitir títulos de curto prazo para financiar as operações. Por isso um programa de compra de commercial paper de bancos e empresas seria bem-vindo.

Além disso, há expectativas de que o Fed reduza a taxa básica de juros de 2% para 1,5%, talvez antes mesmo da próxima reunião, nos dias 28 e 29 de outubro.

Efeito cascata

Fevereiro de 2007 Cresce moratória sobre crédito hipotecário de alto risco nos EUA

22 de janeiro/2008 O Fed inicia fase de cortes de juros

16 de março JP Morgan compra Bear Sterns com a ajuda do Fed

7 de setembro Tesouro americano assume agências Freddie Mac e Fannie Mae

15 de setembro Lehman Brothers pede concordata. BofA compra Merrill Lynch

16 de setembro EUA nacionalizam a maior seguradora do país, a AIG

18 de setembro EUA criam plano de US$ 700 bilhões para absorver ativos podres

3 de outubro Congresso dá sinal verde ao pacote

Europa

Agosto de 2007 Fed, banco central americano e o Banco Central Europeu (BCE) intervêm para dar liquidez aos mercados

17 de fevereiro Governo britânico nacionaliza o banco Northen Rock

18 de setembro Banco britânico Lloyd¿s TSB compra o concorrente HBOS, sob risco de quebra

28 de setembro Grã-Bretanha estatiza o banco Bradford & Bingley

4 de outubro França, Alemanha, Reino Unido e Itália anunciam medidas de combater à crise

5 de outubro Alemanha acerta com bancos privados ajuda de 50 bilhões ao Hypo Real Estate. BNP Paribas compra 75% do Fortis

Brasil

24 de setembro O Banco Central liberar R$ 13,2 bilhões para o sistema financeiro por meio de medidas que farão com que os bancos recolham menos recursos na forma de depósito compulsório

26 de setembro O BC fez o segundo leilão de venda dólares em duas semanas, totalizando US$ 1 bilhão. Esse tipo de leilão não era feito desde fevereiro de 2003

2 de outubro O BC informa que bancos que adquirirem carteiras de crédito de outras instituições terão redução do depósito compulsório. Podem ser liberados até R$ 23,5 bilhões para o mercado

6 de outubro O governo edita medida provisória que dá ao BC poderes para comprar carteiras de crédito de bancos que atuam no País

Ásia

15 de setembro O Banco Central da China reduz os juros nos empréstimos de um ano e da taxa de reservas obrigatórias de bancos para estimular a economia

18 de setembro Pequim ordena que um de seus braços de investimentos, a Central Huijin Investment Company, compre ações dos três principais fornecedores de crédito do país e extingue a taxa de 0,1% sobre a compra de ações

18 de setembro O Japão, com os maiores bancos centrais do mundo, injeta US$ 360 bilhões no mercado. O banco japonês também disponibilizou fundos em dólar de até US$ 60 bilhões. A instituição havia colocado US$ 14,4 bilhões nos mercados financeiros pelo terceiro dia seguido e anunciou a compra de US$ 15,286 bilhões em bônus públicos de empresas e bancos