Título: Crise pode afetar crédito ao etanol na Europa
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2008, Economia, p. B12

Estudo de banco aponta que dívida do setor pode chegar a 21 bi

Jamil Chade

O setor do etanol na Europa e nos Estados Unidos já teme por uma seca prolongada. Não em suas terras férteis, mas na capacidade dos bancos de emprestar dinheiro para os projetos de usinas. Um levantamento feito por um banco internacional apontou que o setor de energias renováveis pode acumular uma dívida de 21 bilhões por ano no processo de expansão de sua produção na Europa. Sem créditos, a tendência é de que muitos projetos sejam abandonados.

O levantamento feito por economistas do Rabobank indica que, até 2020, a Europa fará investimentos de 85 bilhões no setor de etanol, energia solar e outras formas alternativas para chegar à meta de garantir que 20% das fontes não dependam do petróleo. Mas com a quebra do Lehman Brothers, a do Merrill Lynch pelo Bank of America e pelo menos quatro intervenções importantes nos bancos europeus, a previsão é de seca nos empréstimos.

Apenas em 2007, o setor de energia solar e eólica consumiu investimentos de 18 bilhões. A previsão é de aplicação de outros 85 bilhões a cada ano, até 2020. Segundo o Rabobank, a cada ano dívidas de 21 bilhões terminarão sem encontrar um financiador, se o atual cenário for mantido.

A projeção aponta que bancos vão reduzir de forma drástica os créditos são para a área de construção e infra-estrutura. Grande parte dos projetos de energia renovável dependerá de amplos recursos para a construção e infra-estrutura.

Outro impacto será a relutância de empresas tradicionais de investir na redução de emissão de CO2. Os principais lobbies industriais europeus estão pressionando para que seus governos abandonem a meta de ter 20% da energia do continente extraída de fontes alternativas. Os investimentos necessários não seriam possíveis sem créditos abundantes.

SUBPRIME

Alguns analistas ainda apontam que uma bolha poderia ter sido formada nos últimos anos no setor de energia eólica. Para especialistas, os preços dos projetos se assemelham aos níveis de risco do setor imobiliário americano antes da crise. A esperança, segundo o levantamento do Rabobank, é de que novas fontes de capital possam surgir em alguns meses. Uma das opções poderia ser os fundos de pensão.

Outro impacto pode ocorrer na produção de etanol e nos investimentos de empresas em pesquisa para o desenvolvimento de uma segunda geração de biocombustíveis. O pacote de ajuda de US$ 700 bilhões aprovado nos EUA pode reduzir o espaço para o futuro presidente americano destinar recursos ao setor.