Título: Nova chacina e a velha pergunta: o rock mata?
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2008, Internacional, p. A19

Banda alemã liga massacres da Finlândia e de Columbine.

A banda de rock que mais vezes teve de responder a essa afirmação é o grupo alemão KMFDM. Alguns dos piores massacres recentes em escolas, nas quais 30 pessoas perderam a vida, tiveram como protagonistas jovens que gostavam de escutar o rock industrial do KMFDM.

Ouça `Stray Bullet¿, do KMFDM

Nesta segunda-feira, aconteceu de novo: o finlandês Matti Juhani Saari, de 22 anos, que invadiu a Kauhajoki School, em Ostrobothnia (oeste da Finlândia), portando uma pistola semi-automática, e matou dez pessoas, era do fã-clube da banda. Ele morreu algumas horas depois em um hospital de Tampere. Seu perfil no IRC-Galleria (maior site de relacionamentos pessoais da Finlândia) mencionava a banda KMFDM como uma de suas favoritas.

O gosto musical do matador de Kauhajoki é estranhamente coincidente com o de outros assassinos que comungavam das mesmas idéias insanas. No ano passado, em novembro, na mesma Finlândia, um garoto pirado invadiu a Jokela High School, em Tuusula (norte de Helsinki) e matou oito pessoas. A polícia foi checar na casa do atirador (que deu um tiro na cabeça) e viu que ele tinha preparado um vídeo de si mesmo apontando uma pistola para a câmera. Bingo: a música de fundo era Stray Bullet, do grupo KMFDM. O assassino chamava a si mesmo de ¿darwinista social¿.

Mas não é só. O caso mais famoso do crime desse tipo (que virou filme pelas lentes de Michael Moore), que aconteceu na Columbine High School, no Colorado, Estados Unidos, em 1999, também caiu na cabeça dos roqueiros. O matador Eric Harris tinha em seu site várias letras do grupo KMFDM (Anarchy, Power, Son of a Gun, Stray Bullet e Waste). Descobriram depois alguns outros links - o dia do massacre coincidiu com o lançamento do álbum Adios, e era também o dia do aniversário de Hitler. No atentado, 12 pessoas morreram e 23 ficaram feridas.

O líder do grupo, o guitarrista Sascha Konietzko, mais conhecido como Käpt¿n K (ou Capitain K), que criou o KMFDM em Hamburgo, há 24 anos, foi um dos pioneiros em juntar o techno e a música eletrônica ao heavy metal, mas seu som não é tão incomum - há várias bandas do gênero, como Ministry, Incubus, Rammstein, Marilyn Manson e outras. Ainda assim, Konietzko teve de soltar um comunicado no dia seguinte a Columbine, tal a algazarra.

¿Primeiramente, o KMFDM gostaria de expressar sua profunda solidariedade pelos pais, famílias e amigos das crianças mortas e feridas em Littleton. Estamos enojados e abalados, como o resto da nação, com o que aconteceu no Colorado ontem. O KMFDM é uma forma de arte, não um partido político. Desde o começo, nossa música tem sido um manifesto contra a guerra, a opressão, o fascismo e a violência contra outros. Embora membros do grupo sejam alemães, como reportado pela imprensa, nenhum de nós professa qualquer crença no nazismo.¿

A banda KMFDM (iniciais em alemão de Kein Mehrheit Fur Die Mitleid, ¿Sem Misericórdia para as Massas¿, em tradução livre), que tem Lucia Cifarelli nos vocais, não está em turnê atualmente. No ano passado, lançou o seu 15.º disco de estúdio, Tohuvabohu, palavra que deriva do hebreu e significa ¿sem forma e vazio¿.