Título: Coréia do Norte expulsa ONU e reabre usina de Yongbyon
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2008, Internacional, p. A20

País ignora acordo de 2007 e anuncia retomada de atividades atômicas.

ASSOCIATED PRESS

A Coréia do Norte expulsou ontem monitores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da usina de reprocessamento de plutônio de Yongbyon e anunciou a retomada de suas atividades nucleares em uma semana, rompendo um acordo de 2007, no qual se comprometia a desmantelar seu programa atômico. Analistas acreditam que a Coréia do Norte necessitaria de pelo menos um ano para voltar ao nível em que estava em 2006, quando testou sua primeira bomba nuclear.

¿Não há mais lacres nem equipamentos de monitoramento nas instalações norte-coreanas¿, disse em Viena a porta-voz da AIEA, Melissa Fleming.

As instalações norte-coreanas estavam lacradas com mais de cem selos e eram vigiadas por pelo menos 20 câmeras de segurança, segundo a AIEA.

O respeito da Coréia do Norte ao acordo vinha sendo comemorado como uma das poucas conquistas da política externa do presidente americano, George W. Bush.

O acordo previa o envio de ajuda internacional à Coréia do Norte em troca do desmantelamento do programa nuclear. Desde fevereiro de 2007, a Coréia do Norte recebeu concessões diplomáticas e ajuda na área de energia equivalente a 1 milhão de toneladas de petróleo.Um dos motivos que podem ter levado o governo de Kim Jong-il a descumprir o acordo é a relutância dos Estados Unidos em retirar a Coréia do Norte de sua lista de países que apóiam o terrorismo. Por outro lado, especula-se que o recuo seja uma manobra do governo de Pyongyang para obter mais concessões dos países que negociaram o fim de seu programa nuclear - EUA, China, Coréia do Sul, Japão e Rússia.

O porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe, classificou a atitude norte-coreana de ¿muito desapontadora¿. Ele alertou que a medida só trará mais isolamento ao país comunista. O porta-voz acrescentou que os EUA ¿exortam fortemente a Coréia do Norte a reconsiderar seus passos¿. Ao saber da notícia, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, disse que ¿todos sabem o caminho que há pela frente: um acordo sobre um protocolo de verificação que nos permita continuar com a desnuclearização da Península Coreana¿.

A Coréia do Sul expressou profunda preocupação, mas evitou fazer críticas. Ela teme que qualquer ameaça possa acelerar ainda mais o programa nuclear do país rival, com quem ainda está tecnicamente em guerra. Os dois países somente assinaram um acordo de armistício após o fim da guerra, em 1953.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou-se ontem preocupado com a ausência dos EUA e de outros oito países no tratado que prevê o banimento dos testes nucleares.

O tratado, criado 12 anos atrás, foi assinado por 179 países e ratificado por 144. Nove países ainda não aderiram, entre eles EUA, Irã e China. O ex-presidente americano Bill Clinton assinou o acordo em 1996, mas a maioria republicana no Senado o rejeitou três anos depois.