Título: Cientistas reconstroem último dinossauro achado no Brasil
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2008, Vida &, p. A23

Ele teve 198 ossos resgatados, o maior número em uma escavação.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Museu dos Dinossauros, em Uberaba (MG), apresentaram ontem a reconstrução do último dinossauro que viveu em território que hoje é o Brasil - e também o que teve o maior número de ossos resgatados por uma escavação: 198. O Uberabatitan ribeiroi viveu há 65 milhões de anos, numa área rural da cidade mineira, no final do período Cretáceo Superior. Ele media entre 12 e 20 metros e pesava entre 12 e 16 toneladas. Só o pescoço atingia até 3,5 metros.

A retirada dos fósseis demorou três anos, desde a sua descoberta, por acaso, em 2004, durante obras de duplicação da pista da rodovia BR-050. Para o paleontologista Ismar de Souza Carvalho, um dos autores do estudo que descreveu a nova espécie, ¿o achado geológico, que tem fornecido pistas sobre o ambiente de vida e morte, talvez seja mais relevante do que o dinossauro¿. O artigo foi publicado no volume 51 da revista inglesa Paleontology.

A espécie pertencente ao grupo dos titanossauros, animais que habitaram praticamente todos os continentes, com exceção da Antártica, e caracterizavam-se por ter pescoços e caudas longas, crânios pequenos, patas como as de um elefante e dieta herbívora.

O Uberabatitan ribeiroi, assim batizado em homenagem à cidade onde foi encontrado e ao pesquisador Luís Carlos Borges Ribeiro, que localizou o primeiro osso, viveu numa época de profundas mudanças climáticas, provocadas provavelmente pela separação dos continentes americano e africano e pela formação do Oceano Atlântico.

Esse período entre o Cretáceo, quando os dinossauros se extinguiram, e o Terciário, quando surgiram os mamíferos, foi caracterizado pela intenso movimento das placas tectônicas, provocando erupções vulcânicas e terremotos de grandes proporções. Os fósseis foram resgatados em uma das fendas provocadas por eventos dessa natureza, numa região conhecida como Serra da Galga, a 30 quilômetros do centro de Uberaba.

De acordo com as amostras de rochas encontradas, o clima da região, nessa época, se alternava entre longos períodos de seca, sem fonte de água permanente, que acabavam por provocar a morte da fauna e da flora, e chuvas torrenciais, que formavam rios temporários e arrastavam as carcaças mortas até a fenda mais próxima, onde eram encobertas e fossilizadas pela lama, explicou o pesquisador.

A réplica ficará em exibição na Casa de Ciência da UFRJ até o dia 24 de outubro. Depois, irá para o Museu do Dinossauro, em Uberaba, onde ficará exposto permanentemente ao lado dos fósseis originais.