Título: Lista expôs Incra e abriu crise entre ministérios
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2008, Vida &, p. A21

Insinuação do ministro Minc de que levantamento havia sido engavetado motivou reação de Marina Silva

A divulgação de uma lista com os cem maiores desmatadores da Amazônia Legal desde 2005 opôs na última semana dois ministérios: Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. Oito assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), todos em Mato Grosso, foram listados: seis encabeçam a relação, um está em 40º lugar e o outro, em 44º.

Por causa dos desmatamentos de 2.282 km2 (228,2 mil hectares) nas oito áreas, o Incra foi multado pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 265,5 milhões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio na crise e determinou ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que faça uma auditoria nas multas.

No dia seguinte à divulgação da lista, Minc afirmou que não viu os dados previamente e que o material fora preparado no início do ano pelo Ibama, ou seja, durante a gestão da ex-ministra e senadora Marina Silva (PT-AC). No ar, ficou a sugestão de que ela teria guardado os dados na gaveta. Marina refutou a insinuação e criticou seu sucessor. ¿Se eu estivesse lá, nenhuma lista teria sido divulgada sem que eu gerenciasse o processo¿, disse ao Estado.

CORTE EM ALTA

Em meio à troca de acusações sobre o impacto dos assentamentos na Amazônia e o mal-estar entre os ministérios, a informação mais importante do anúncio de Minc perdeu força: a de que o desmatamento voltou a crescer com força em agosto, depois de um mês de queda.

O Sistema de Detecção em Tempo Real do Desmatamento (Deter), gerido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou naquele mês 756 km2 derrubados. Em julho, o número foi de 323 km2.

Ainda que o Deter não seja o sistema oficial de contabilização de área desmatada, ele é comumente usado como termômetro do que acontece na Amazônia. Ficou clara a tendência de crescimento em 2008 em relação a 2007. Julho, por sua vez, teria sido um mês atípico, talvez reflexo de condições do mercado e ações de controle do governo.

A principal causa para o aumento, admitida pelo ministro, parece ser a proximidade com as eleições municipais. Historicamente, os candidatos, já envolvidos na política local, tornam-se mais coniventes com a derrubada promovida por eleitores e financiadores. Por essa hipótese, espera-se que o índice de setembro siga a mesma toada. Esses números, contudo, só terão efeito político no fim de 2009: a taxa anual de desmate na Amazônia é calculada de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte.