Título: Brasil é o 4º credor dos EUA e nível de exposição preocupa
Autor: Mello, Patricia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2008, Economia & Negócios, p. B1

O Brasil já é o quarto maior credor individual dos Estados Unidos. Tem US$ 148,4 bilhões em títulos do Tesouro americano, de acordo com os dados mais recentes de Washington, de julho. O País só perde para Japão (US$ 593,4 bilhões), China (US$ 518,7 bilhões) e Grã-Bretanha (US$ 290,8 bilhões) - os países exportadores de petróleo aparecem na frente do Brasil porque estão agrupados.

Em meio à crise nos Estados Unidos e ante a perspectiva de um grande aumento na dívida do país, a concentração das reservas brasileiras em títulos do Tesouro americano (Treasuries) desperta preocupação. Rússia e a Índia vêm reduzindo a exposição ao dólar.

Esses títulos ainda são o investimento mais seguro do mundo. Recentemente, em meio à turbulência, a remuneração de alguns desses papéis caiu para quase zero por causa do aumento na demanda por esses títulos - resultado de investidores fugindo de qualquer tipo de risco.

¿Não vejo ninguém preocupado com um calote dos Estados Unidos¿, diz Jon Huenemann, diretor de comércio exterior do escritório Miller Chevallier e ex-representante-assistente de comércio dos EUA. Mas, se a crise se aprofundar, a economia americana entrar em recessão e a dívida explodir, aí pode-se pensar em diversificação, diz o executivo.

O economista Brad Setser, pesquisador do Conselho de Relações Exteriores que acompanha os fluxos globais de capital, acha que a administração das reservas brasileiras tem sido cautelosa e não vê problema na concentração em títulos do Tesouro americano. Mas ele aponta que outros países vêm diversificando as reservas.

¿Rússia e Índia vêm diversificando bastante as reservas, reduzindo bastante a exposição ao dólar¿, diz Setser. A Rússia deve estar com cerca de 45% das reservas denominadas em dólar, ante menos de 40% da Índia. A Índia tem muitos depósitos no BIS. A China tem muitos títulos da Fannie Mae e Freddie Mac, além de Treasuries.

Esse foi um dos principais motivos para o resgate das agências pelo governo americano - a China, uma das maiores financiadoras do déficit americano, seria a maior vítima de um calote da Fannie e da Freddie. A Coréia também tem muitos títulos da Fannie e Freddie e papéis de empresas americanas, que vêm se desvalorizando marcadamente nos últimos tempos.