Título: Eu tocava no violão algumas músicas do Tom Jobim
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2008, Vida &, p. A20
Martin Chalfie, um dos vencedores do Nobel, ficou sabendo do prêmio pela internet. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele diz que quer se juntar a outros pesquisadores para defender mais recursos às pesquisas científicas nos EUA.
Como foi receber a ligação dos responsáveis pelo prêmio?
Não ouvi o telefone tocar. Ele tem tocado baixo e não tive tempo de regular. Acordei às 6h10 e pensei: `Quem é o schmuck (sinônimo para estúpido) que ganhou o prêmio este ano?¿ Abri o laptop, fui direto ao site do Nobel e vi que eu era um dos schmucks. Foi assim que descobri.
O que muda agora?
Hoje está sendo certamente muito diferente (risos). Mas não sei o que vai mudar no resto da minha vida. Suspeito que eu tenha mais visibilidade, pelo menos por hoje, as pessoas estão falando comigo no corredor e isso é muito legal. O prêmio vai me dar mais oportunidade. Nos EUA, por exemplo, não tem havido o apoio científico que o país merece. E agora posso adicionar minha voz a outros vencedores do prêmio pedindo mais vigor das iniciativas da Casa Branca por políticas científicas. Nos últimos oito anos, tivemos várias políticas falsas.
Houve um artista plástico que usou a proteína em um coelho.
Sim, o coelho fluorescente verde, do artista Eduardo Kac. Vi fotografias do coelho. Tenho um amigo brasileiro, Artur Kampela, que me deu aulas de violão e foi ele que me falou do coelho. Estudei violão com o Artur por dois ou três anos.
O sr. sabe tocar música brasileira? Toco algumas clássicas. Eu tocava há muitos anos quando assisti uma apresentação de música brasileira. E foi lá que conheci o Artur. Agora machuquei as mãos e tive que parar. Eu tocava algumas do Tom Jobim, do Villa-Lobos. Há uma longa e maravilhosa tradição musical no Brasil.
O sr. já visitou o Brasil?
Desde os anos 80, quando descobri os livros de Jorge Amado, tenho sido um grande fã e li todos os romances publicados em inglês. Eu adoraria ir para a Bahia.
Como está sua pesquisa hoje?
Publiquei em 1994 a pesquisa premiada pelo Nobel. Muitos cientistas continuam usando a descoberta. As perguntas que estou tentando responder hoje não têm nada a ver com a proteína fluorescente. Um dos projetos de que estou feliz em fazer parte é tentar entender como o sentido mecânico funciona. Podemos detectar luz com a visão, químicos com o palato, o olfato. Cientistas sabem como a luz e os químicos interagem. Sabemos quais são as moléculas. Mas temos sentidos que não respondem a químicos ou luz, eles respondem a um pequeno empurrão. Quando o médico bate com um martelo no seu joelho, o que ele está fazendo é alongar um músculo. E você pode detectar isso. Todas essas coisas são sensos feitos de força mecânica. E têm uma outra coisa em comum, especialmente com os humanos. Não temos a menor idéia de como eles funcionam. Não ter a menor idéia de como funcionam é uma maravilhosa oportunidade. É isso que estamos pesquisando.