Título: Intensidade da dengue preocupa o governo
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2008, Vida &, p. A36

Depois de detectar sinais de uma epidemia de dengue em formação para o próximo verão, que poderá atingir especialmente e de forma intensa jovens e crianças, o Ministério da Saúde decidiu repassar R$ 280 milhões adicionais para municípios considerados vulneráveis.

A forma de rateio deverá ser discutida na próxima semana, em uma reunião entre os conselhos de secretários municipais e estaduais da Saúde (Conasems e Conass).

¿Municípios de maior risco deverão receber mais¿, afirmou o presidente do Conass, Osmar Terra. A idéia inicial é que contrapartidas sejam exigidas dos municípios, explicou o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte e presidente do Conasems, Helvécio Miranda.

O encontro era esperado para o fim de outubro, mas foi antecipado justamente para que o calendário de ações possa ser cumprido com segurança.

O repasse integra um pacote de medidas para prevenir a epidemia e evitar problemas como o registrado no verão 2007/2008 no Rio.

As medidas deverão ser divulgadas no dia 13.

A apreensão das autoridades sanitárias se explica. Este ano há a associação de três fatores importantes para desencadear uma epidemia mais intensa. Especialistas estão convictos de que, se nada for feito, a epidemia seja maior, mais grave e atinja principalmente jovens e crianças.

Uma das preocupações é o retorno da circulação de um dos quatro tipos do vírus da dengue, o 2, responsável pelos casos mais graves de infecção. Uma epidemia causada pelo vírus já havia sido registrada no País, em meados da década de 1990. Nos últimos quatro anos, o vírus voltou a circular no País e em 2007 já estava espalhado em 11 Estados.

O vírus ressurge num momento em que há grande número de pessoas suscetíveis à infecção entre a população - jovens e crianças que não haviam nascido ou não foram contaminados durante a primeira epidemia.

Além disso, a previsão é de que este ano as chuvas sejam intensas - o que favorece o aumento da população do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Para arrematar, com o passar dos anos, a gravidade das contaminações está aumentando. ¿Não sabemos porque isso acontece, mas o fato é que o número de casos mais agudos vem aumentando¿, observou Miranda.

No pacote antidengue discutido pelo governo estão medidas para assegurar o diagnóstico rápido e tratamento correto - principalmente para pacientes jovens e crianças. Uma das possibilidades é que, em momentos de crise, residentes possam ser destacados para trabalhar nos hospitais. Além disso, maior atenção deverá ser dada a planos de contingência - que traçam estratégias para atendimento de pacientes, indicam os hospitais que devem ser procurados e as equipes de suporte que podem ser acionadas. Ano passado, dos 670 municípios considerados prioritários, 48% não tinham plano nenhum.

Neste ano, equipes foram destacadas para auxiliar as cidades prioritárias a preparar seus planos. O Ministério da Saúde não informou quantas já conseguiram elaborá-los. Só afirmou que os números mais recentes sobre dengue estavam sendo concluídos.