Título: PT rechaça PMDB como cabeça de chapa em 2010
Autor: Samarco, Christiane; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2008, Nacional, p. A12

O PT reagiu mal à movimentação do PMDB para lançar candidato próprio à presidência da República, em 2010, ou no mínimo participar diretamente da escolha do nome que irá disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Doze horas depois do jantar no Palácio da Alvorada, em que a cúpula do PMDB apresentou a Lula os números que traduzem o cacife político obtido nas urnas, o PT avisou que não abre mão de indicar um petista para o Planalto. ¿O presidente Lula continua querendo o PMDB na aliança em 2010. Mas não como cabeça de chapa. Aí é demais¿, protestou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). ¿Agora, sonhar não custa nada. Quando a mosca azul pica é o caminho para fazer bobagem¿, ironizou. O problema é que a advertência do PMDB ao PT, de que não aceitará papel de ¿coadjuvante¿ na sucessão de Lula provocou uma reação em cadeia na base governista. Os outros partidos aliados que também cresceram na disputa municipal, aproveitaram a ¿deixa¿ dos peemedebistas para avisar que não ficarão ¿a reboque¿ do PT em 2010.

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¿O PMDB está certo e PSB também não quer ser coadjuvante na sucessão presidencial¿, disse o líder socialista no Senado, Renato Casagrande (ES), ao lembrar que seu partido é o único da base aliada que já apresentou um nome para a cadeira de Lula. Referiu-se ao deputado Ciro Gomes (PSB-CE) que, embora tenha fracassado no projeto de eleger sua ex-mulher e senadora Patrícia Sabóia (PDT-CE) prefeita de Fortaleza, também está no páreo. Não só pelo ¿recall¿ de ter sido duas vezes candidato à presidência, ainda pelo PPS, como também por colher, por tabela, o bom desempenho do conjunto do PSB na disputa municipal.

¿Se o presidente Lula não tivesse 70% de popularidade, seria impossível administrar essa base de 14 partidos¿, avaliou ontem o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Ele entende que a disputa pelas prefeituras é a ¿pior eleição para o governo¿ porque, além de o Planalto ter de administrar os aliados que voltam fortalecidos pelos votos conquistados, ainda tem que lidar com os derrotados, que retornam a Brasília cheios de mágoas e dívidas de campanha para pagar.

De fato, nem o PTB de Múcio escapa à regra dos ¿governistas que voltam vitaminados pelas urnas¿, ávidos por demonstrar a nova força ao governo. ¿Cinco milhões de votos decidem uma eleição presidencial e cinco votos no Senado definem uma votação de interesse do governo¿, afirmou o senador e vice-presidente nacional do PTB, Gim Argelo (DF), ao citar o número de votos nestas eleições e número de senadores (5) que têm mandato até 2014 e, portanto, serão importantes para o próximo governo, seja ele quem for.

Preocupado em não se atritar com o PMDB que pode presenteá-lo com a indicação para presidir o Senado no ano que vem, o senador Tião Viana (PT-AC) recomendou, ontem, ¿muita tranqüilidade para responder a esta conta matemática¿ que o PMDB apresentara na véspera ao presidente Lula.

Ele lembra que, de antemão, o PMDB já queria a vice do PT em 2010 e admite que as urnas municipais trazem uma nova realidade.

¿O PMDB está forte e pode sair ainda mais fortalecido, pois disputa o segundo nas quatro maiores cidades do País¿, explicou. Ao mesmo tempo, porém, Viana disse que é legitimo que o PT reivindique a cabeça de chapa presidencial e ponderou: ¿O PMDB não construiu essa vitória sozinho, mas participando de um governo de coalizão que a sociedade aprovou nas urnas¿.