Título: Mais da metade das crianças viu conteúdo impróprio
Autor: Sorano, Vitor; Junior, Maia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2008, Metrópole, p. C4

Fernanda Alves, de 14 anos, não tem perfil no Orkut. ¿Meu pai não deixa.¿ Menos mal que pode utilizar o MSN. No entanto, o acesso é restrito - o computador da casa está instalado no quarto dos pais. Foi a forma encontrada para limitar o acesso à internet. ¿Minha mãe prefere que eu entre só quando ela está em casa¿, diz. ¿Meu pai? Por ele eu nem entrava.¿

Os pais ouvidos pela SaferNet, aliás, afirmam discutir com os filhos sobre jamais colocarem no ar informações pessoais. Eles, porém, afirmam dar o sobrenome (51%), publicar fotos (72%), fornecer nomes de escolas ou clubes (21%) que freqüentam e compartilhar até a data de aniversário (61%). Tais informações, em um terço dos casos, já foram ¿roubadas¿ (mais informações ao lado) e em 10% dos casos os jovens internautas relataram já terem sido vítimas de chantagem online.

Pior: mais de metade (58%) das crianças que utilizam a internet conta já terem tido contato com algum conteúdo que elas mesmas consideram agressivo ou impróprio. Além disso, 38% dizem ter sido atacadas por ciberbullying - envio repetido de xingamentos. A maioria dos menores de idade afirma já ter buscado algum tipo de proteção e reclama da falta de discussão dessas estratégias com o público jovem.

Cerca de 40% dos pais informaram que seus filhos já explicitaram incômodo ou constrangimento em relação ao que vivenciaram pela Internet. No entanto, é possível notar que a falta de informação sobre como agir resulta na falha em proteger. Embora considerem a internet um espaço público inseguro - e 71% receiem que algum adulto possa fazer mal aos filhos por meio dela -, a maioria dos responsáveis não coloca nenhuma restrição ao seu uso. E 18% já se aventuraram a vivenciar um encontro com alguém que conheceram online, o que pode inibi-los na hora de coibir essa prática.

Entre os pesquisados, 74% disseram ainda temer que as crianças tenham acesso a conteúdos impróprios. Mas, mesmo entre os que impõem regras, só um terço acredita que as crianças e adolescentes cumpram todas elas.

Os números de uso, aliás, comprovam a dificuldade de controle. Segundo a SaferNet, 77% dos jovens afirmam que não possuem limite nenhum no tempo que podem ficar na internet e 55% deles reconhecem que ficam tempo demais na web - porcentual igual de adultos que reclamam de excesso de conexões por parte dos jovens internautas. Esse ¿tempo demais¿ também foi quantificado pelos pesquisadores: 44% dos menores de idade dizem que passam quatro horas por dia conectados.

Também foi feito um raio X dos endereços eletrônicos visitados: 80% dos jovens internautas preferem os sites de relacionamento e 72% comunicadores instantâneos. Quando se cadastram nos sites de relacionamento, 66,71% deles dizem que o fazem sozinhos em casa, sem supervisão de um responsável, mesmo que os sites sejam proibidos para crianças e adolescentes.

DENÚNCIAS

Um dado da pesquisa, segundo a SaferNet, que mostra uma preocupação maior com os crimes virtuais é o das denúncias de crimes online. Dentre os pais, cerca de 42% já fizeram ao menos uma denúncia sobre crime na internet; entre as crianças e adolescentes, esse porcentual também chegou a 40%.