Título: Países europeus vão recapitalizar bancos para evitar quebras
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2008, Economia & Negócios, p. B1

Mais de uma dezena de governos da Europa devem anunciar entre hoje e quarta-feira a criação de fundos nacionais de recapitalização e de garantias do sistema financeiro, nos mesmos moldes do plano anunciado pelo Reino Unido há cinco dias. A decisão foi tomada ontem em Paris, após três horas e meia de reunião entre chefes de Estado e de governo do Eurogrupo, o conjunto de países com moeda única. A ação será ao mesmo tempo nacional, já que os recursos virão do orçamento de cada país, e continental, na medida em que todos os governos obedecerão a regras unificadas para a intervenção. O valor dos planos deve se aproximar dos ¿ 300 bilhões inicialmente previstos na idéia do fracassado fundo europeu contra a crise.

Hoje, pelo menos França, Alemanha, Itália, Áustria, Portugal e Noruega devem anunciar seus planos, segundo confirmou ao Estado o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso. Até quarta-feira, quando terá início a reunião de Cúpula da União Européia, em Bruxelas, a expectativa é de que ¿quase a totalidade dos países do bloco¿, segundo o presidente da França, Nicolas Sarkozy, trará a público planos semelhantes de socorro ao sistema financeiro. ¿A reunião de hoje foi excepcional. Até amanhã, anunciaremos medidas concretas e de implementação imediata¿, disse o francês, confiante. Em demonstração de unidade - após duas semanas de divergências -, os governos da França e da Alemanha realizarão encontros ministeriais nesta tarde e a seguir anunciarão à imprensa, no mesmo momento, em Paris e Berlim, os termos de seus planos de salvamento.

Todos os planos serão baseados no modelo britânico. Segundo o ministro das Finanças da Bélgica, Didier Reynders, os fundos serão nacionais e gerenciados pelos governos de cada país, mas as intervenções obedecerão a regras comuns, de forma a preservar a igualdade de competição entre os países. ¿Daqui até quarta-feira, cada Estado decidirá os recursos que disponibilizará para a capitalização de bancos. Os recursos serão nacionais e não haverá um fundo único¿, disse.

Na última semana, o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, decidiu destinar, em um primeiro momento, ¿ 63,5 bilhões para a nacionalização de bancos e outros ¿ 317,7 bilhões para garantir os débitos das instituições financeiras. Hoje, Brown pode anunciar a tomada do controle majoritário de dois dos maiores bancos do país, o Royal Bank os Scotland (RBS) e o Halifax Bank of Scotland (HBOS).

Baseado nas mesmas linhas gerais, o plano alemão pode ser ainda maior. Ontem, em Paris, especulava-se que o fundo nacional que deve ser criado pela chanceler Angela Merkel pode chegar a ¿ 100 bilhões, além de ¿ 200 a ¿ 300 bilhões para garantias de empréstimos. ¿É hora de pararmos com iniciativas nacionais próprias e seguirmos juntos para estabilizar o mercado¿, disse a chanceler. O governo português, por sua vez, já anunciou ontem a criação de um fundo de 20 bilhões para garantir a liquidez dos bancos.

Dentre os planos especulados, o mais bem guardado até o momento é o francês. Em Paris, até ontem à noite não havia vazado à imprensa o valor do fundo para intervenção no sistema bancário que Nicolas Sarkozy deve confirmar hoje à tarde.

Criticados por se mostrarem incapazes de encontrar um denominador comum sobre um plano europeu contra a crise, os governos da zona do euro alteraram nitidamente suas estratégias. Há uma semana, no encontro que reuniu os líderes políticos de Alemanha, França, Reino Unido e Itália, as divergências prevaleceram. Contrária à idéia de um plano europeu nos moldes do Plano Paulson, nos EUA, Angela Merkel bateu de frente com os governos de França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que defendiam a proposta de um fundo europeu.