Título: Quem pedia real mais fraco agora teme descontrole
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2008, Economia, p. B9

Nem mesmo os economistas que criticaram fortemente o processo de valorização que levou o dólar até o nível de R$ 1,56 em agosto estão contentes com a sangria do valor da moeda brasileira nas últimas semanas.

¿Está havendo um `overshooting¿ (exagero), da mesma forma que houve um overshooting em sentido contrário¿, diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Gomes de Almeida, que tem sido um dos mais severos críticos da política cambial, acha que uma desvalorização descontrolada e causada por uma situação de crise, como a ocorrida nos últimos dias, é negativa por causa dos impactos inflacionários e pelo efeito desestabilizador na economia.

¿Uma política cambial favorável ao exportador não é aquela que desvaloriza a moeda, mas sim a que evita a valorização¿, diz. Ele defende um câmbio flutuante em princípio, com oscilações razoáveis, mas que tenha algum grau de estabilidade em torno de níveis competitivos para a exportação: ¿O BC não deveria permitir esta gangorra provocada pelos mercados futuros.¿ Embora lamente a turbulência atual, Almeida acha que o governo deveria aproveitar a ocasião e não deixar o dólar cair novamente abaixo de R$ 2, caso os mercados se acalmem.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, e também extremamente crítico do modelo de juros elevados e câmbio valorizado, diz que ¿o real ainda poderia se desvalorizar um pouco mais, para o meu gosto, mas eu não estou nada feliz com a forma como isto está acontecendo¿. Ele diz que a moeda está sofrendo um ataque especulativo, e que o mercado é irracional, por demonstrar mais confiança no Estado norte-americano (já que o dólar está se fortalecendo no momento de crise) que no brasileiro.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), ¿o câmbio ficou favorável ao exportador, mas a grande dificuldade é conseguir vender, e ter certeza que vai receber¿. Ele nota que a contração do crédito atingiu em cheio o comércio exterior, deixando sem financiamento tanto o produtor brasileiro quanto o comprador no exterior.