Título: Economistas já falam em crash de 2008
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2008, Economia, p. B10

A hemorragia da última semana nas bolsas de valores já faz com que economistas rotulem o evento como o ¿Crash de 2008¿. Comparações feitas por especialistas apontam que os últimos cinco dias úteis registram quedas que superaram as piores semanas da crise de 1929, ainda que as conseqüências para a economia real ninguém ainda possa prever se serão comparáveis.

Claro que, hoje, a economia é bastante diferente do que era em 1929, o que distorce essa relação. As bolsas são muito maiores, as finanças globais são muito mais integradas, a comunicação instantânea faz com que qualquer movimento em qualquer parte do mundo seja imediatamente sentido em todos os países. Mesmo assim, as comparações são inevitáveis.

Com o crash de 1929, as ações de Wall Street começaram a acumular sucessivas quedas. Foram necessários mais três anos para que as perdas se consolidassem e o valor das ações atingisse seu ponto mais baixo. Entre outubro de 1929 e 1932, as ações no mercado dos EUA perderam 90% de seu valor.

Dados coletados por economistas da Universidade de Genebra apontam que, desta vez, as bolsas, pelo menos na Europa, já registram uma queda de 40% em dez meses. A Bolsa de Amsterdã soma perdas de 49% nesse período, a de Milão, 47%, e a de Paris, 43%. Na Rússia, a queda já é de 64% em apenas seis meses. Em Wall Street, a queda foi de 36% desde janeiro.

Na pior semana de 1929, a Bolsa de Nova York, nos dia 28 (segunda-feira) e 29 (terça-feira) de outubro, perdeu 13,4% e 11,7%, respectivamente. Mas conseguiu se recuperar parcialmente nos dois dias seguintes e, por sorte, a sexta-feira era o feriado de 1º de novembro. A semana acumulou 9% de queda. Já na semana passada, a queda foi de 18% em Wall Street, e chegou a mais de 22% nas bolsas da Europa.

Para Nicholas Bloom, economista especializado em choques financeiros na Universidade Stanford, há muitos fatores que colocam a atual crise em um nível de comparação à de 1929.¿A Grande Depressão começou com um crash no sistema financeiro. Os bancos retiraram suas linhas de crédito e os empréstimos entre bancos congelaram. O Fed desesperadamente tentou restabelecer a calma, mas sem sucesso. O que se seguiu foi uma alta volatilidade e uma recessão¿, afirmou Bloom.

¿A atual crise é uma tempestade perfeita: uma alta nas incertezas gerando queda nas atividades industriais, colapso do sistema bancário, que está impedindo que as empresas continuem a investir, e uma mudança política com medidas protecionistas¿, disse.

Apesar de a queda atual superar os índices de outubro de 1929, a diferença é que a tradução para a economia real ainda é incerta. A crise que durou entre 1929 e 1932 gerou uma queda no PIB americano de 50% e 25% da população passou a não ter empregos, algo que ainda está distante de se ver acontecer.

¿Ainda é cedo para dizer até que ponto a crise vai repetir o que ocorreu em 1929. Se os demais governos no mundo repetirem o que os EUA fizeram, então certamente estaremos em uma era de desespero¿, disse Don Boudreaux, professor de economia na George Mason University, nos EUA.