Título: Governo criará comitês antidengue
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2008, Vida &, p. A30
A estratégia de prevenção à dengue vai mudar. Diante da ameaça de uma grave epidemia neste ano, o governo decidiu apostar na atuação de comitês de mobilização, grupos com representantes da sociedade civil que já existiam no papel, mas tinham atuação pouco expressiva. A idéia é que tais comitês, orientados, passem a incentivar a população a adotar medidas para o combate do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti.
A mudança deverá ser anunciada amanhã pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no pacote de medidas contra a dengue. Além da ênfase à atuação dos comitês, Temporão deverá divulgar a liberação de R$ 128 milhões para municípios considerados prioritários. Uma quantia menor da que era esperada - R$ 280 milhões - pelo presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Osmar Terra.
O governo começou a treinar equipes dos comitês em março. Especialistas foram enviados a cidades estratégicas no combate à doença, espalhadas por 13 Estados e nas baixadas. O trabalho-piloto mostrou que, com a nova estratégia, a mobilização da comunidade aumentou.
A atuação diferenciada passou a ser desenhada com a constatação de que o modelo usado até então, baseado em distribuição de folhetos e alertas de equipes de fiscalização, era pouco eficaz. Servia para informar, mas não para mobilizar. A linguagem foi adaptada para cada região.
CRIANÇAS
A mudança de estratégia do governo é uma reação às previsões de que neste ano teria aumentado o risco de uma epidemia de dengue em grandes proporções, com um número maior de vítimas graves, sobretudo crianças. No último verão, um dos Estados mais críticos foi o Rio, onde houve um número recorde de pelo menos 174 pessoas mortas por causa da doença (mais informações nesta página).
¿Como o Brasil convive há 20 anos com a doença, é grande o número de crianças que já nascem com anticorpos do vírus, adquiridos da mãe¿, afirmou, de Washington, Jarbas Barbosa, gerente da área de Vigilância em Saúde e Gestão de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Mas, como há tempos não há epidemia mais séria, é alto o número de pessoas suscetíveis a tipos do vírus, principalmente menores de 15 anos. Diante desse quadro, acrescentou, é essencial a preparação de uma rede assistencial capaz de atender novos casos, treinamento de médicos e, principalmente, um serviço sensível para captar rapidamente sinais de piora do paciente e adotar as medidas terapêuticas necessárias.
O gerente da Opas lembra que a preocupação com a qualidade da assistência vale para outros países da América. ¿É preciso aperfeiçoar o conhecimento, encontrar uma uniformização no tratamento.¿ No próximo mês, uma reunião da Opas será realizada em Brasília com representantes de governos de vários países, justamente para definir padrões de tratamento.
Barbosa, que já foi secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, diz que a nova estratégia deverá ser usada pelos países durante alguns anos. ¿Até que uma vacina seja desenvolvida, teremos de conviver com a ameaça da doença e com casos mais graves de infecção¿, afirmou. Uma das grandes dificuldades de controle da dengue é a falta de continuidade nas ações de prevenção de proliferação do mosquito. ¿Nos anos posteriores a uma grande epidemia, há redução do número de casos. Isso leva a crer que é um trabalho bem feito de prevenção. Mas, na maioria das vezes, não é isso que ocorre. O número de casos cai porque há menos pessoas suscetíveis ao vírus.¿ Passados alguns anos, quando um antigo sorotipo passa a circular, o número volta a aumentar.