Título: Estouro da bolha cambial afeta 200 empresas brasileiras
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2008, Economia, p. B7

O estouro da bolha cambial, que a equipe econômica vê como uma espécie de subprime tropical, pode ter contaminado pelo menos 200 empresas brasileiras. A informação sobre o número de empresas surpreendidas pela disparada do dólar e dependuradas em operações financeiras que previam ganhos com a moeda americana mais barata foi levada ao Planalto na semana passada.

Segundo uma fonte do primeiro escalão do governo, a informação sobre o número de empresas contaminadas preocupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e levou à decisão de adiar de quarta-feira para quinta-feira passada a viagem para os EUA, para participar da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles - os dois já estavam em São Paulo e, ao contrário do anunciado na quinta-feira, não foram chamados de volta a Brasília para afinar o discurso na reunião do FMI.

A mesma fonte disse que o governo, após as reuniões de Lula com Mantega e Meirelles, ficou seguro de que grande parte das empresas afetadas tem caixa para assumir os compromissos contratados e absorverá os prejuízos.

No dia seguinte à reunião, o governo recebeu a informação de que mais uma grande empresa ia se manifestar sobre prejuízos. O braço industrial da Votorantim divulgou perdas com operações financeiras de alto risco (derivativo cambial) de R$ 2,2 bilhões. Em nota, a empresa afirmou que a exposição cambial ¿decorrente de operações de swap com verificação em dólar foi totalmente eliminada¿. O Banco Votorantim informou que não teve participação na formação das operações de swap com verificação em dólar feitas pelo grupo nem registrou ¿prejuízo com a eliminação das referidas operações¿.

Há duas semanas, a Sadia anunciou prejuízo de R$ 760 milhões com a liquidação de operações de derivativos de câmbio e a Aracruz assumiu perdas potenciais de R$ 1,95 bilhão.

A mesma fonte disse que boa parte do problema tem a ver com o grau de especulação em que as empresas se envolveram. ¿Esse problema não se deve exatamente à crise financeira. Qualquer outra razão que tivesse levado o dólar para cima teria acionado o gatilho.¿ Em dois meses, o dólar disparou de R$ 1,56 para R$ 2,32, na sexta-feira. Em tese, essas empresas deveriam ser beneficiárias da valorização do dólar.