Título: Polícia acha que Valério já sabia que seria preso
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2008, Nacional, p. A14

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza pode ter sido alertado sobre a Avalanche antes da deflagração da operação da Polícia Federal, que desarticulou organização criminosa acusada de extorsão, fraudes cambiais e espionagem. A suspeita de que o caixa 2 do mensalão, alvo maior da ação policial, foi informado com antecedência dos movimentos dos federais provocou ontem abertura de inquérito criminal na PF em São Paulo.

Valério foi preso sexta-feira. A PF o coloca no topo do grupo empenhado em forjar inquérito contra fiscais da Fazenda que autuaram a Cervejaria Petrópolis - cujo presidente, Walter Faria, é amigo de Valério.

A PF alega ter fortes indícios de que o empresário recebeu informações confidenciais da Avalanche um dia antes de sua prisão. Preliminarmente, as suspeitas recaem sobre integrantes da própria instituição, que teriam acesso a dados sensíveis, apesar das precauções dos condutores da investigação.

A Avalanche está sob responsabilidade do Setor de Inteligência da PF, unidade reconhecida pela inflexível discrição com que cerca as missões. Nem mesmo os outros profissionais da corporação escapam a esse filtro - ninguém tem acesso aos passos e domínios da Inteligência.

Valério foi monitorado durante meses por interceptação telefônica, infiltração e escuta ambiental. A PF diz que ele ¿teria conhecimento da expedição do mandado de prisão temporária em seu desfavor¿ e ¿poderia ter empreendido fuga, não fosse a vigilância especial imposta por policiais federais¿.

¿(Valério) foi questionado sobre isso em seu depoimento e negou que tivesse conhecimento prévio da operação¿, rebateu o criminalista Marcelo Leonardo, defensor do empresário.

RECURSO

Hoje, o advogado Eugenio Malavasi vai impetrar no Tribunal Regional Federal (TRF) habeas corpus em favor do delegado federal Antônio Hadano, preso sob suspeita de ligações com o grupo. ¿Não vislumbro fundamento para manutenção da prisão (do delegado)¿, sustenta Malavasi. ¿Hadano foi preso em sua residência, é primário e não há um único resquício de seu envolvimento em qualquer ato irregular.¿

Malavasi destaca a longa folha de serviços de Hadano, desde os tempos de militar do Exército, carreira que seguiu por 15 anos até passar no concurso para delegado, em 1996. ¿Hadano é delegado classe especial, exemplar, não tem uma única mácula em seu prontuário. Vai atender a todas as intimações da Justiça e não há nenhum risco de que vá ameaçar quem quer que seja.¿